O carbonato de manganês de alta pureza, uma das matérias-primas mais requisitadas pela indústria de componentes eletroeletrônicos, passa a ser produzido no Brasil. A Fermavi, empresa situada em Suzano, na Grande São Paulo, desenvolveu tecnologia própria para o processamento do manganês e experimenta os primeiros resultados comerciais do produto.
Pequenas quantidades já são fornecidas para a Thornton, de Vinhedo, na região de Campinas, empresa fabricante de cerâmicas magnéticas (ferrite de manganês-zinco). Essas cerâmicas são utilizadas na produção de indutores, transformadores e filtros de aparelhos eletrônicos, como computadores e TVs, além de equipamentos de telecomunicações e de iluminação.
A Fermavi é hoje a única empresa que produz carbonato de manganês no país, um material relativamente novo na indústria. Ele é produzido a partir da dissolução do manganês em solução de amônia (carbamato de amônia), que passa, depois, por um processo de purificação e precipitação (solidificação) como carbonato de manganês de alta pureza.
A empresa é uma tradicional fornecedora de insumos minerais para o setor químico e de fertilizantes e desenvolveu o carbonato com um projeto financiado pelo Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.
Domínio do processo
A conclusão da planta industrial, prevista para o final de 2002, vai permitir que a Fermavi altere o status do Brasil de simples fornecedor do minério bruto, para produtor e exportador do carbonato de manganês de elevada pureza. “Trata-se de um projeto de domínio de tecnologia que trará retorno garantido e permitirá a transferência desse conhecimento para outras empresas do setor, além da abertura de novos empregos”, analisa o engenheiro Sílvio Benedicto Alvarinho, que coordena o projeto na Fermavi. Nos anos 70, na função de pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ele realizou os primeiros ensaios em laboratório para a obtenção de um produto de alta pureza originário do manganês.
Alvarinho seguiu uma linha de pesquisa que se baseia num processo desenvolvido nos anos 50, nos Estados Unidos, paratratar minérios usados em siderurgia. Depois, o processo foi complementado, naquele país, por uma etapa de purificação que resultou no carbonato de alta pureza. A idéia do projeto atual teve início durante a realização de uma pesquisa sobre o mercado de novos materiais, realizada por Alvarinho, em 1995.
Reservas de peso
Falar em carbonato de manganês de elevada pureza ainda é novidade no meio empresarial brasileiro, mas, no exterior, trata-se de um produto caro e muito disputado no mercado de componentes eletrônicos. Osprincipais produtores são Bélgica, Estados Unidos e Japão. O manganês bruto chega a esses países a US$ 90 a tonelada e o produto final (o carbonato de manganês de alta pureza) é vendido às indústrias eletroeletrônicas por US$ 1,5 mil a tonelada.
Um dos principais efeitos desse projeto é a valorização do minério brasileiro, classificado como de alta qualidade, extraído em grandes quantidades, principalmente das jazidas de Carajás, no Pará, pela Companhia Vale do Rio Doce, Urucum, em Mato Grosso, e em algumas regiões da Bahia e de Goiás, ainda pouco exploradas.
“Calculamos que a nova planta industrial, se concebida para uma produção de 4 mil toneladas por ano (t/ano), permitirá um faturamento anual de US$ 6 milhões”, prevê Alvarinho. Foi ele quem fez o convite de parceria à Fermavi, em 1997, quando a proposta de produção de carbonato foi apresentada à FAPESP.
A Fundação liberou R$ 208 mil, ao longo dos últimos três anos, o que possibilitou a montagem da usina piloto de produção do carbonato e duas unidades laboratoriais.Nos primeiros meses do estudo em laboratório, a empresa limitava-se a produzir bateladas de 50 gramas de carbonato de manganês de alta pureza. Depois, passou a obter 1 quilo e hoje produz cerca de 100 quilos por hora na unidade piloto. “É ainda uma produção experimental, mas que permitiu o levantamento dos parâmetros dos processos necessários para o projeto da unidade industrial.”
O mercado mundial de carbonato de manganês de alta pureza representa cerca de 25 mil t/ano. Para entrar nesse mercado, a Fermavi tem a meta de produzir cerca de 5 mil t/ano, ou 20% do mercado mundial. “O trabalho até agora desenvolvido nos dá segurança para dizer que podemos chegar a esse nível de produção”, acrescenta o engenheiro Oscar de Nucci, que trabalha junto com Sílvio Alvarinho.
Outro produto
A produção do carbonato abre também um outro caminho. Ele é importante para a produção de bióxido de manganês químico ou bióxido de manganês-gama, matéria-prima usada na composição de pilhas e baterias. Trata-se de um produto considerado extremamente sofisticado sobretudo em razão da complexa tecnologia a ser empregada para obtê-lo, que já está sendo desenvolvida pela equipe de Alvarinho. “Esse tema é objeto de outro projeto nosso dentro do PIPE que será finalizado em um ano.”
As dimensões do mercado mundial para o bióxido são bem mais amplas – cerca de 200 mil t/ano – contra as 25 mil toneladas do carbonato especial. Otimista com os resultados até agora alcançados, Alvarinho adianta que a Fermavi também terá condições de deter uma parte expressiva do mercado de bióxido. “O Brasil produz o minério em quantidade, de boa qualidade, e a nossa equipe já domina parte da tecnologia necessária ao desenvolvimento desse produto.”
Para os dois projetos foram estabelecidas linhas de processamento que incorporam conceitos rígidos de proteção ambiental, sem o descarte de resíduos para o meio ambiente. Embora com esses cuidados, a empresa vai ter que procurar outro local para se instalar. A área atual é zona de manancial e não aceita mais ampliações industriais.
Momento ideal
Alvarinho explica que a continuidade dos ensaios laboratoriais e o seu aprimoramento permitiram a consolidação dos parâmetros operacionais da empresa e a definição de um fluxograma a ser utilizado, numa etapa posterior, em projeto de unidade industrial ou semi-industrial. Com a ampliação, a empresa almeja atingir uma escala de produção de 5 mil toneladas de carbonato de manganês e 10 mil toneladas de bióxido de manganês-gama por ano.
Segundo Alvarinho, o momento é ideal para desenvolver projetos dessa natureza porque há uma evidente solicitação do mercado para o carbonato de manganês de alta pureza e também para o bióxido de manganês. Um momento que será aproveitado.
O projeto
Produção de Carbonato de Manganês de Alta Pureza (nº 97/06574-4); Modalidade Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE); Coordenador Sílvio Benedicto Alvarinho – Fermavi; Investimento R$ 208.365,00