O relatório de um painel da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos – equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil – concluiu que a National Science Foundation (NSF), principal agência norte-americana de financiamento à ciência básica, agiu de modo “ausente e desengajado” na gestão do Programa Antártico dos EUA (Usap) e falhou em proteger de assédio sexual cientistas e pessoal de apoio que trabalham em estações de pesquisa na Antártida. O documento afirma que a instituição foi negligente em sua tarefa de supervisionar a empresa Leidos, contratada para administrar a logística das três estações de pesquisa dos Estados Unidos na Antártida: McMurdo, Amundsen-Scott e Palmer. A empresa, por sua vez, foi criticada por não conseguir exigir de seus subcontratados os padrões considerados adequados para reportar e lidar com casos de assédio sexual.
As conclusões pouco acrescentam a uma investigação encomendada pela NSF e concluída em 2022, que apontou “assédio sexual generalizado” no Usap. O levantamento entrevistou cientistas e pessoal de apoio que trabalharam em bases de pesquisa do país no continente gelado de 2018 a 2020. Setenta e dois por cento das mulheres mencionaram o assédio sexual como um problema em sua comunidade, ante 48% dos homens. Para agressões sexuais, os índices foram de 47% para o público feminino e de 33% para o masculino. Uma das conclusões do trabalho foi que os funcionários encarregados de receber denúncias e dar apoio às vítimas não apenas desencorajavam a apresentação de queixas como, em alguns casos, deixavam os reclamantes em situação vulnerável. Por fim, a má conduta sexual não era vista como um problema de segurança, mas como um mero efeito de episódios de abuso de álcool.
A principal novidade do relatório parlamentar foi, pela primeira vez, responsabilizar formalmente a NSF pelos problemas. O comitê da Câmara dos EUA reconheceu que, recentemente, a agência tem implementado mudanças para melhorar o ambiente do programa antártico e fortalecer as estruturas de denúncia e apoio para vítimas de assédio e agressão, mas destacou que ainda há muito a ser feito. A NSF está se preparando para realizar uma nova licitação para escolher a empresa de suporte que substituirá a Leidos e os parlamentares recomendaram que o contrato estabeleça padrões para canais de denúncia e na proteção das vítimas contra retaliações.
O documento do comitê traz outras recomendações para dar mais segurança aos pesquisadores, como contratar uma entidade externa e independente para investigar as denúncias de assédio. “Valorizamos o trabalho do comitê e estamos analisando atentamente cada uma das recomendações, muitas das quais já estão alinhadas com as ações que a NSF tomou”, disse um porta-voz da agência à revista Science.
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