Durante três períodos diferentes, dez famílias de uma comunidade de agricultores de Minas Gerais consumiram 76 diferentes refeições que foram analisadas. O estudo “Nicho ecológico de agricultores familiares da região sul do Estado de Minas Gerais (Brasil)”, assinado por Nivaldo Nordi e colaboradores, investigou os meses de setembro de 1995 (fim da estação seca), dezembro de 1995 (estação chuvosa) e abril de 1996 (fim da estação chuvosa). Além de defender a utilização do conceito de nicho ecológico como um dos principais para estudar o ser humano e sua relação com o meio ambiente, o estudo discutiu os resultados obtidos nos contextos sociocultural, econômico e agrário. A comunidade analisada pareceu depender marcadamente de determinados itens alimentares, mostrando pouca variação sazonal em sua dieta, e também ser auto-suficiente quanto ao suprimento alimentar, com satisfatório estado nutricional. A largura do nicho alimentar para as famílias de pequenos agricultores estudadas esteve sempre abaixo de 50%, com alta sobreposição sazonal, variando de 72% a 80%. Em termos econômicos, os dados mostram ainda que o sistema de produção dos agricultores oferecem a eles uma independência apenas relativa do mercado. Em compensação, metade dos alimentos ingeridos foi produzido pelas próprias famílias. Além disso, do ponto de vista social, a cooperação no trabalho e a troca de alimentos permite que ocorra uma maior consolidação das relações humanas entre os grupos familiares da comunidade.
Brazilian Journal of Biology – VOL. 65 – Nº1 – São Carlos – FEV. 2005
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