Em setembro deste ano, uma nova geração de moldeiras de arcadas dentárias estará disponível para os cerca de 150 mil dentistas que trabalham no país. Os novos produtos são o resultado de 20 anos de pesquisas do professor Artêmio Luiz Zanetti, titular da Clínica de Prótese Parcial Removível da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). Há dois anos, ele se associou com a empresa Teccom, que produz instrumentos para a área médica, com o objetivo de levar em frente o projeto Desenvolvimento da Moldeira de Transferência – Técnica Zanetti , que faz parte do Programa Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP.
A concretização do trabalho teve início em 1977, quando o professor Zanetti constatou a dificuldade dos alunos em obter boas reproduções (modelos) de arcadas dentárias. “Com isso, resolvi realizar um estudo das dimensões dos arcos dentários do biótipo brasileiro ao tomar como base 400 arcadas, sendo 200 superiores e 200 inferiores, obtidas de 100 alunos da FOUSP e 100 da Universidade São Francisco, de Bragança Paulista, onde também lecionava”, relata Zanetti.
A coleta da estrutura da arcada se faz com a moldeira carregada com uma massa maleável, que serve para a gravação da base dentária quando da necessidade de manufaturar um dente ou uma dentadura. Logo em seguida a massa se solidifica e serve como parâmetro para os trabalhos protéticos. Em 1980, com base nesse trabalho, Zanetti estudou sete tipos de moldeiras – cinco importados e dois nacionais – utilizados na prática odontológica. A conclusão indicou a incompatibidade das dimensões das moldeiras com os arcos dentários estudados.
Sem recursos
“Nenhuma delas servia”, lembra o professor, recém-aposentado, referindo-se ao estudo comparativo que realizou com as sete moldeiras. “Constatei que os dentistas tinham à mão uma ferramenta inadequada”, acrescentou. Zanetti não possuía os recursos para aproveitar industrialmente suas observações. Com o tempo, desenvolveu uma técnica, com a qual o dentista pode realizar, numa única sessão, todo o trabalho que normalmente leva o paciente a várias visitas ao consultório.
O uso do articulador é um dos principais segredos do método do professor da USP. “Após concluir a faculdade, o profissional deixa de lado o articulador, uma ferramenta indispensável para a captação das medidas dos pacientes”, afirma Zanetti. De acordo com uma pesquisa feita pela Teccom, dos 150 mil dentistas que trabalham no Brasil, apenas 16 mil usam o articulador. Esse aparelho mede a posição dos maxilares do paciente e as características de sua oclusão, ou seja, a maneira como ele fecha a boca. Assim, as novas moldeiras vão ajudar a todos, dentistas e pacientes.
Perfil
Artêmio Luiz Zanetti, 70 anos, formou-se em Odontologia na USP. Aposentou-se no ano passado e, atualmente, é professor da Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid) e da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), Campus IX, de Campinas.
Projeto
Desenvolvimento da Moldeira de Transferência – Técnica Zanetti (nº 97/13131-1); Modalidade Auxílio à Pesquisa – PITE; Coordenador Artêmio Luiz Zanetti; Investimento : R$ 194.000,00 da FAPESP e R$ 96.250,00 da empresa