Começa a semana que tira o sono dos pesquisadores mais badalados, aqueles cotados para receber o prêmio Nobel. Na categoria Fisiologia ou Medicina, o Instituto Karolinska, na Suécia, anunciou hoje (7/10) o reconhecimento à descoberta de como funciona o tráfego de vesículas reguladoras dentro das células e entre elas. Os norte-americanos James Rothman, da Universidade Yale, e Randy Schekman, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e o alemão radicado nos Estados Unidos Thomas Südhof, da Universidade Stanford, dividem o prêmio que será entregue numa cerimônia em dezembro.
Não existe comunicação dentro das células ou entre elas sem a ação de vesículas que transportam substâncias específicas, como enzimas, hormônios ou neurotransmissores, ao ponto exato e no momento em que devem atuar. O funcionamento do organismo como uma orquestra bem azeitada depende dessas minúsculas bolhas que se fundem às membranas celulares para transferir sua carga para fora ou para dentro de células, ou para alguma estrutura celular específica.
O corpo de pesquisa reconhecido pelo mais prestigioso prêmio da ciência foi iniciado por Schekman, que nos anos 1970 identificou em leveduras três classes de genes que controlam diferentes aspectos desse sistema de transporte. Ele e Rothman logo se deram conta de que tinham enfoques complementares sobre a mesma questão, conforme relatou em entrevista a Adam Smith, do site do Nobel. “Ao longo dos anos à medida que comparamos anotações, às vezes de forma colaborativa, outras vezes competitiva, ficou claro que ele e eu estávamos trabalhando nas mesmas proteínas, nos mesmos genes.”
Trabalhando em células de mamíferos ao longo dos anos 1980 e 1990, Rothman descobriu que proteínas nas vesículas e nas membranas se encaixam como se fossem os dois lados de um zíper, permitindo a fusão entre as duas estruturas. Com grande diversidade, essas proteínas permitem um encaixe específico que direciona a entrega ao endereço exato. “Uma das maiores lições em toda a bioquímica, biologia celular e medicina molecular é que quando proteínas operam no nível subcelular elas se comportam como se fossem maquinaria mecânica”, disse o pesquisador que iniciou sua formação como físico antes de se embrenhar na biologia molecular.
A precisão temporal necessária ao funcionamento das células nervosas, que passam informações uns aos outros no momento exato em que precisam causar uma reação, é o foco do trabalho de Thomas Südhof. Nos anos 1990 ele descobriu que a maquinaria identificada por Schekman e Rothman responde a uma carga súbita de íons de cálcio, o que permite sincronizar a transmissão.
Perdido nas estradas em algum lugar da Espanha quando recebeu o telefonema de Adam Smith, o pesquisador de Stanford declarou que se considera incrivelmente motivado, mas só descobriu isso à medida que a idade avançou e ele descobriu que nem todo mundo trabalha com o mesmo afinco. “Não posso lhe dizer quanto eu gosto de fazer o que faço.” É o ingrediente principal para se ganhar um Nobel.
Um diagrama explicando a o trabalho do trio (em inglês) está no site do Nobel.
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