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Prêmio

Nobel reconhece trio de economistas que procura entender diferenças entre nações ricas e pobres

Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson estudaram a influência da história e das instituições no desenvolvimento econômico

Ill. Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach

Os economistas Daron Acemoglu e Simon Johnson, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e James Robinson, da Universidade de Chicago, ambos situados nos Estados Unidos, venceram o Prêmio Nobel de Economia de 2024, por sua contribuição para o entendimento das diferenças entre nações pobres e ricas e do papel desempenhado pelas instituições no processo de desenvolvimento econômico. Ao anunciar o reconhecimento nesta segunda-feira (14), a Academia Real de Ciências da Suécia destacou a importância da democracia para que as sociedades sustentem a prosperidade no longo prazo, uma das ideias defendidas pelo trio de laureados.

Nascido na Turquia, descendente de armênios, Acemoglu, de 57 anos, tem cidadania americana e é professor do Departamento de Economia do MIT, onde ingressou no início da década de 1990 pouco depois de concluir o doutorado na London School of Economics, no Reino Unido, em 1992. Seus dois colegas, ambos britânicos, também fizeram carreira nos Estados Unidos. Johnson, 61, doutorou-se no MIT em 1989 e atualmente é professor da Escola Sloan de Administração daquela instituição. Robinson, 64, defendeu doutorado na Universidade Yale em 1993 e dá aulas na Escola Harris de Política Pública da Universidade de Chicago. Eles dividirão o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões).

Na visão do trio, instituições políticas e econômicas construídas pelas diferentes sociedades ajudam a explicar por que algumas se tornaram prósperas e outras ainda não conseguiram superar a pobreza. Assim, instituições de caráter inclusivo, de países com leis de proteção a direitos de propriedade e eleições regulares, estimulariam o crescimento sustentável. Por outro lado, instituições classificadas pelos economistas como extrativas são aquelas que propiciaram o enriquecimento de uma pequena elite em desfavor de grandes massas, contribuindo para o atraso e a pobreza.

“O trabalho deles mostra como o desenho das instituições condiciona o desenvolvimento e de que forma esse desenho reflete a divisão de poder político e econômico encontrada na origem das diferentes sociedades”, afirma o economista Rodrigo Reis Soares, professor do Insper, de São Paulo. “Isso ajuda a entender por que sociedades desiguais reproduzem instituições que favorecem as elites em detrimento do conjunto da população, alimentando um ciclo vicioso difícil de romper.”

Economistas como o norte-americano Douglas North (1920-2015), vencedor do Nobel em 1993, destacaram anteriormente a importância das instituições na economia, e outros também estudaram o peso da formação histórica no destino das sociedades. Soares argumenta que Acemoglu, Johnson e Robinson inovaram ao articular as duas perspectivas para aprofundar a análise do desenvolvimento econômico. “Eles incentivaram um resgate importante da pesquisa em história econômica, que tinha sido deixada de lado por muitos anos”, observa o pesquisador.

Um dos trabalhos mais importantes do trio de economistas é o artigo “The colonial origins of comparative development: An empirical investigation” (“As origens coloniais do desenvolvimento comparativo: Uma investigação empírica”), de 2001. Nele, investigaram o processo de colonização de várias regiões por nações europeias a partir do século XVI para entender por que os resultados alcançados por essas sociedades tinham sido tão díspares no longo prazo. A conclusão é que instituições mais inclusivas foram criadas em lugares para os quais foram enviados colonos europeus em grande número para ocupar a terra, como o norte dos Estados Unidos, e o contrário ocorreu onde os colonizadores preferiram escravizar populações indígenas e negras, como no Brasil. Para sustentar essa conclusão, os pesquisadores levantaram dados sobre condições de vida e taxas de mortalidade da era colonial em dezenas de países, além de estudar sua evolução histórica.

Em outros artigos, Acemoglu e Robinson desenvolveram modelos matemáticos para explicar como a resistência das elites no poder dificulta a construção de instituições mais inclusivas, e como o aumento do descontentamento popular pode forçá-las a aceitar mudanças. “Eles mostram que o equilíbrio entre um Estado forte e uma sociedade civil ativa é essencial para uma trajetória de crescimento sustentável”, diz o economista Claudio Ferraz, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade de British Columbia, no Canadá, que teve aulas com Robinson durante o doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos.

Os três economistas se tornaram ativos participantes do debate público nos últimos anos. Acemoglu e Robinson escreveram Por que as nações fracassam: As origens da prosperidade e da pobreza, lançado em 2012 nos Estados Unidos e publicado no mesmo ano no Brasil pela editora Elsevier. Atualmente editado pela Intrínseca, o livro alcançou grande sucesso em vários países ao apresentar em linguagem acessível as conclusões de décadas de pesquisa acadêmica. Na obra, os autores apontam o Brasil como caso bem-sucedido de transição para um modelo de crescimento mais inclusivo, mencionando a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, e o bom desempenho da economia brasileira nos seus dois primeiros mandatos, até o início dos anos 2010. O título chegou ao Brasil pouco antes do início da recessão em que o país afundou de 2014 a 2016 e não foi atualizado.

Em 2019, Acemoglu e Robinson publicaram O corredor estreito – Estados, sociedades e o direito da liberdade, traduzido pela Intrínseca em 2022 no Brasil, em que discutem a crise das democracias contemporâneas. Mais tarde, em 2023, Acemoglu e Johnson lançaram Poder e progresso: Uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade, veiculado em abril deste ano no Brasil pela Objetiva, em que examinam a contribuição da inovação tecnológica para o desenvolvimento.

Acemoglu estava em Atenas, na Grécia, quando recebeu a notícia de que tinha ganhado o Nobel e participou remotamente da entrevista coletiva em que o prêmio foi anunciado, em Estocolmo. Um dos jornalistas quis saber se as conclusões de suas pesquisas são válidas diante do êxito econômico alcançado nas últimas décadas pela China, onde a interferência do Estado na economia é grande e o regime liderado pelo Partido Comunista silencia a oposição. O pesquisador disse que a democracia não pode ser vista como panaceia, mas acrescentou que o crescimento tende a ser menos duradouro quando conduzido por regimes autoritários.

Embora os trabalhos que ele e seus colegas produziram defendam a ideia de que instituições democráticas contribuem para o desenvolvimento econômico, Acemoglu reconheceu também que o processo democrático é frequentemente muito conflituoso e está sujeito a retrocessos. “As democracias estão atravessando uma fase difícil”, disse o economista. “É crucial que elas aperfeiçoem sua governança e cumpram a promessa da democracia para mais pessoas.”

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