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Oportunidade

Novas raízes no Brasil

Professor iraquiano descobre vocação para a ciência

LÉO RAMOSNão é tarefa fácil localizar em São Paulo um pesquisador iraquiano radicado no Brasil. Mais difícil ainda é encontrar um que tenha descoberto sua aptidão para a atividade científica durante uma passagem por terras brasileiras. “Para falar a verdade, não conheço outro iraquiano que tenha esse perfil além de mim”, reconhece Khalid Basher Mikha Tailche, no momento fazendo um pós-doc pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV) Programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP). Há 15 anos ele deixou Mosul, onde nasceu, depois de ser convencido por uma prima brasileira a vir para o Brasil dar aulas de inglês, atividade que já exercia no Iraque. Em São Paulo conseguiu emprego no Instituto Roosevelt de Línguas e a visita prevista para não durar muito tempo tomou contornos mais sérios. “Em 2000, um professor da escola de inglês, que fazia mestrado em história na USP, me levou para conhecer a universidade. No ano seguinte decidi me matricular num curso de extensão em tradução de línguas modernas, como aluno especial”, diz.

Novamente, uma escolha sem grandes pretensões levava Tailche para trilhas pelas quais nunca se imaginou caminhando. Entre 2005 e 2007, lançou-se a uma pesquisa de mestrado, sobre uma peça teatral do iraquiano Yousif El-Saigh, motivada por Otelo de William Shakespeare. Na sequência, em 2008, começou o doutorado, um estudo sobre o pensamento fundamentalista. No ano passado ele concluiu o doutorado, mas não se deu por satisfeito. A ânsia em buscar novos conhecimentos que o conectem às suas raízes árabes o levou ao pós-doutorado, iniciado em maio deste ano. Sua proposta é analisar dois movimentos de sociedades literárias originadas durante a diáspora árabe, por meio da produção de dois escritores: Chafiq Al Maluf (1905-1977), que imigrou para São Paulo, e Mikhail Naimy (1889-1988), que viveu em Nova York.

Quando concluir seu pós-doc em 2015, Tailche deseja lançar um livro, para contar sua experiência a jovens universitários. “A qualidade do ensino e da pesquisa caiu muito depois que o Iraque passou por guerras e pela destruição da cidadania. Quero mostrar que é possível alcançar um futuro bem-sucedido ao se optar pela pesquisa científica”, diz Tailche. “Tive que vir para o Brasil para descobrir meu gosto pela pesquisa, por meio da qual posso manter viva a minha relação com o mundo árabe”, afirma.

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