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Carta da editora | 300

Números

Segundo lugar em número absoluto de mortos por Covid-19 no mundo, o Brasil já ultrapassou a marca de 200 mil vítimas fatais. A cifra poderia ser bem menor se houvesse ampla adesão aos cuidados preventivos comprovadamente eficazes: distanciamento físico, uso de máscaras e medidas de higiene.

É igualmente inegável que o número poderia ser muito maior se não fosse o SUS, Sistema Único de Saúde, que há 30 anos oferece atendimento universal à população brasileira. Embora mais de 20% dos cidadãos também recorram a serviços privados de saúde, o SUS é aberto a todos e 150 milhões de brasileiros dependem exclusivamente dele.

A atual crise sanitária desencadeada pela pandemia evidencia as qualidades do sistema, que proporcionou em suas três décadas de existência avanços significativos no provimento de cuidados de saúde. Coloca em foco também os desafios que o sistema subfinanciado e ainda não totalmente implementado enfrenta. Reportagem de capa desta edição traz um balanço de um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo.

No dia 17 de janeiro, a Anvisa autorizou o uso emergencial dos imunizantes CoronaVac, da chinesa Sinovac, e Covishield, da farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Os sucessivos adiamentos do anúncio dos ensaios clínicos, somados à comunicação parcial dos resultados em um primeiro momento, levaram a dificuldades de compreensão quanto à eficácia da vacina chinesa por parte da opinião pública. A cobertura do novo coronavírus nesta edição procura esclarecer uma série de dúvidas que circulam nesse início da campanha de imunização.

Parte substancial dos ensaios clínicos de fase 3 da CoronaVac foi conduzida no Brasil sob a responsabilidade do Instituto Butantan – iniciativa do governo estadual negociada com o governo chinês ainda nos primeiros meses da pandemia. Assumir um protagonismo nacional na busca por um imunizante que reduza as internações e mortes por Covid-19 injetou novo ânimo na instituição que, neste mês, completa 120 anos. Um conjunto de reportagens e entrevista produzidos pelo editor especial Carlos Fioravanti resgata a rica história do instituto e as suas diversas frentes de atuação hoje.

Esta edição registra outra efeméride, da própria Pesquisa FAPESP, que chega ao número 300. Não é um marco trivial para uma publicação nacional dedicada ao jornalismo científico, com 100 páginas mensais produzidas pela sua equipe. Com reportagens construídas a partir de resultados de pesquisas em ciência e tecnologia desenvolvidas no Brasil, nas mais diversas áreas do saber, a revista procura disseminar esse conhecimento e permitir aos leitores que se familiarizem com as instituições, as estruturas e os modos de fazer científico que viabilizam a construção desse conhecimento.

Originalmente uma publicação voltada para a comunidade científica, a revista ampliou seu público e muito se orgulha de alcançar um grupo muito importante, o de estudantes do fundamental II, do ensino médio e universitário. Reportagem à página 60 traz histórias e informações sobre o uso da revista em salas de aula, em livros didáticos e em vestibulares.

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Antes da quarentena, quando a redação de Pesquisa FAPESP trabalhava presencialmente, meu telefone às vezes tocava e uma voz firme dizia: “Por favor, o Marcos”. Dona Rosa Carcillo Pivetta se referia ao filho, nosso editor de Ciência, há 20 anos na revista. Não tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente. A equipe toda se solidariza com a família e lamenta mais essa perda provocada pela pandemia.

 

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