A National Science Foundation (NSF) , a principal agência de fomento à pesquisa nos Estados Unidos, aprovou a conexão da rede ANSP (Academic Network at São Paulo), criada pela FAPESP, à rede de alta velocidade conhecida como Internet 2. Por meio desse canal exclusivo, que opera a uma velocidade de 155 megabits por segundo, pesquisadores dos cerca de 100 instituto de pesquisas do Estado de São Paulo poderão conectar-se com pesquisadores de 180 instituições e universidades norte-americanas, para trocar informações, em tempo real, com alta resolução de texto, imagem e voz. Atualmente, as conexões por Internet comum se fazem a uma velocidade de 12 megabits. O anúncio do acordo com a NSF foi feito no dia 4 de janeiro, no Palácio dos Bandeirantes.
“A Internet 2 é o Rodoanel da comunicação”, comparou José Fernando Perez, diretor-científico da FAPESP. O passaporte de acesso à essa rede de alta velocidade mantida pela NSF foi o projeto SinBiota, um sistema de informação ambiental que integra o projeto Biota/FAPESP, de mapeamento e análise das informações sobre a biodiversidade no Estado de São Paulo. Os dados do SinBiota serão disponibilizados, por meio da Internet 2, aos pesquisadores norte-americanos que participam do projeto Species Analyst, da rede de informações sobre a biodiversidade da América do Norte, e vice-versa.
Mas, além do Biota, ainda há a perspectiva de integrar, também por meio dessa rede de alta velocidade, as pesquisas do projeto Genoma Humano do Câncer com o National Cancer Institute (NCI), para o seqüenciamento de genes humanos; o projeto de seqüenciamento e análise de genes de uma variante da bactéria Xylella fastidiosa que ataca as videiras da Califórnia, desenvolvido em parceria com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos; e as pesquisas para decodificar o DNA de duas cepas da Xylella que acometem a amendoeira e uma planta ornamental conhecida como oleandro, desenvolvidas em parceria com o Joint Genome Institute (JGI).
A conexão à rede Internet 2 se faz por meio de cabos de fibra óptica entre São Paulo e Chicago – único ponto em que todas as redes mundiais se encontram -, o que permitirá à FAPESP planejar novos acordos bilaterais para interligar centros de pesquisa paulistas também a instituições da Europa e Ásia. “Em breve, estaremos falando ao mesmo tempo com o resto do mundo”, prevê Perez.
Banda larga
A Internet comum não distingue as informações que trafegam pela rede: e-mails, imagens, sons e textos são transmitidos juntos, sem qualquer privilégio. “É como se fosse uma estrada de quatro pistas usadas igualmente por qualquer usuário”, compara Hartmut Glaser, diretor da rede ANSP. Já a Internet 2 oferece um serviço diferenciado, separando em faixas, a Internet comum de um canal de conexão direto ponta a ponta para a transmissão, por exemplo, de imagens, sons e conferências em tempo real e com qualidade. “Se essas mesmas informações trafegarem por um canal entupido, cheio de e-mails , a imagem será distorcida”, diz Glaser. A banda larga é uma das condições para a operação desse canal exclusivo. E não se trata dos serviços de banda larga já disponíveis no mercado brasileiro, que operam a uma velocidade de 256 kilobits. “Estamos falando de 155 megabits”, ressalva Glaser. “Nesse caso, qualquer aplicação passa.”
Assim que forem finalizados os testes de interligação, esse canal de alta velocidade e resolução permitirá que a coletânea de dados do SinBiota – imagens, texto e sons – seja acessada com qualidade e em tempo real por pesquisadores norte-americanos. Permitirá, ainda, que estudiosos dos dois países interajam, também em tempo real, em horários predeterminados.
A Internet 2 poderá ser utilizada para a telemedicina: uma cirurgia realizada num hospital paulista, por exemplo, poderá ser assistida e orientada por uma junta médica no exterior. Também será uma ferramenta importante para a meteorologia, já que permitirá uma leitura mais precisa das imagens transmitidas por satélite.
A médio prazo, a Internet 2 poderá chegar ao público. Será possível, por exemplo, assistir a filmes por um canal na Internet, desde que existam bandas em número suficiente para atender à demanda. Por enquanto, a Internet 2 é uma ferramenta de trabalho da comunidade acadêmica. Nos Estados Unidos esse canal de alta velocidade está sendo implementado por um consórcio que reúne 180 universidades e 45 empresas, o University Consorcio for Advanced Internet Development (Ucaid), do qual agora também faz parte a FAPESP. A FAPESP também tem planos de iniciar um projeto de pesquisa em rede de alta velocidade para o desenvolvimento de novos produtos, que reunisse os institutos de pesquisa e empresas. “A idéia é fazer uma espécie de genoma da Internet”, adianta Perez.
A expectativa da Fundação, num projeto desse porte, é motivar a pesquisa e o desenvolvimento nessa área de internet para elevar o conhecimento em tecnologias de rede de transmissão no Estado de São Paulo aos padrões internacionais, pela capacitação de profissionais qualificados nas áreas de pesquisa, serviços, equipamentos e aplicações. “O que motiva o programa é o reconhecimento, por parte da FAPESP, da enorme importância que as novas tecnologias de transmissão de informação desempenham hoje e irão desempenhar no futuro”, argumenta Perez.
Uma das estratégias do programa será promover intercâmbio entre universidades, empresas e setores do governo, na busca de um melhor entendimento das necessidades da sociedade nesse setor, de forma a amplificar a utilização dos recursos existentes, seja por meio de fundos ou incentivos para o seu desenvolvimento. “Espera-se o desenvolvimento de novos produtos e serviços que aumentem a nossa atividade econômica e reduzam a necessidade de importação de serviços e equipamentos”, afirma Perez.
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