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Difusão

O espectro do gênio

Exposição revela a vida e a contribuição de Albert Einstein, o cientista símbolo do século XX

EDUARDO CESARDepois da exposição Revolução genômica, que esteve em cartaz entre fevereiro e julho, o Pavilhão Armando de Arruda Pereira, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, abriga até dezembro mais uma mostra do Museu Americano de História Natural. Agora é a vez da vida, das teo­rias e do universo de um dos maiores cientistas de todos os tempos, o físico alemão radicado nos Estados Unidos Albert Einstein (1879-1955). Inaugurada em Nova York em 2002 e vista por mais de 2 milhões de pessoas em vários países, a exposição Einstein apresenta objetos pessoais, fotos, cópias de cartas e manuscritos do pai da Teoria da Relatividade. O Instituto Sangari, responsável pela vinda da exposição, espera uma audiência entre 300 e 400 mil visitantes apenas na capital paulista. A mostra deve percorrer várias cidades brasileiras.

O roteiro da exposição contempla dez blocos temáticos, em que se mesclam aspectos biográficos e acadêmicos do cientista. A seção “Vida e tempo” aborda a vida pessoal e a carreira de Einstein . Em “Luz” o destaque é uma instalação que desafia o visitante a atravessar uma sala cortada por feixes de luz sem tocá-los – Einstein ganhou o Nobel da Física de 1921 em reconhecimento à explicação do efeito fotoelétrico. O bloco “Tempo” é dotado de instalações que exploram o conceito de relatividade do tempo. “Átomos” traz as idéias que abriram as portas da física quântica. Em “Energia” o mote é a equação (E = mc2) com a qual Einstein deduziu a relação entre energia e massa. No bloco “Gravidade”, uma projeção cuja imagem se deforma com a gravidade de quem se aproxima dela, é usada para ilustrar a Teoria da Relatividade Geral. “Guerra e paz” explora as preocupações pacifistas do cientista em relação ao uso da energia nuclear. “Cidadão global” apresenta o engajamento de Einstein contra a segregação e o anti-semitismo e na defesa dos direitos humanos. A seção “Legado” reúne os campos de pesquisa abertos pelos trabalhos de Einstein, da evolução do Universo à tecnologia.

Mistura étnica
Por fim, a ala “Einstein no Brasil” narra a sua viagem à América Latina em 1925, expõe objetos pessoais e ainda mostra um retrato pintado por Candido Portinari e um boneco do Carnaval pernambucano representando o cientista. Trechos dos diários de Einstein são apresentados, incluindo anotações sobre sua visita ao Rio de Janeiro: “Deliciosa mistura étnica nas ruas. Portugueses, índios e negros em todos os cruzamentos. Espontâneos como plantas, subjugados pelo calor. Experiência fantástica. Uma indescritível abundância de impressões em poucas horas”, escreveu. De passagem pelo Jardim Botânico, ele fez o seguinte comentário: “O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil”. Referia-se a uma observação do eclipse solar registrada na cidade cearense de Sobral por equipe de cientistas ingleses. A observação mostrou que a gravidade do Sol agia como uma lente, desviando a luz das estrelas distantes que apareciam no céu em posições diferentes das originais. Era a confirmação de uma previsão feita por Einstein no ano de 1916, corroborando a Teoria da Relatividade Geral.

As seções “Átomos” e “Einstein no Brasil” são exclusivas da versão brasileira da mostra. Segundo o coordenador-geral da exposição, Marcelo Knobel, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor científico do Instituto Sangari, a exposição recebeu outras adaptações e acréscimos. “Os painéis interativos foram elaborados pela equipe brasileira. Além disso, praticamente todos os textos foram recriados”, afirmou. “A exposição é voltada não só para quem gosta de física, mas também para quem se interessa por saber mais sobre o mundo em que vivemos. A idéia não é levar o visitante a dominar conceitos da física, mas que saia com número ainda maior de perguntas, estimulado a saber mais”, destacou Knobel. A comissão científica incumbida da adaptação foi formada por Carmen Pimentel Cintra do Prado, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Nelson Studart, do Departamento de Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Alfredo Tomalsquim, diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro.

Escolas e grupos de estudantes poderão agendar visitas monitoradas por educadores. A exposição oferece um curso gratuito para professores, no qual são fornecidos subsídios teóricos para a preparação das visitas com os alunos e para o trabalho em sala de aula. No percurso da mostra foram montados dois Laboratórios do Aprendizado, nos quais os estudantes poderão participar de atividades que abordam alguns dos conceitos apresentados. Um dos laboratórios permite ver, com o auxílio de microscópios, o movimento browniano, evidência experimental da existência dos átomos descrita por Einstein em 1905. No outro laboratório são exploradas as propriedades da luz, por meio de experimentos de espectroscopia óptica.

Em colaboração com o Instituto Sangari, a revista Pesquisa FAPESP está responsável pela programação cultural paralela à exposição. Serão palestras e debates com físicos e pesquisadores de outras áreas. Os sábados trarão mesas-redondas com o tema “O tempo em dois tempos”. Nelas, um físico e um pesquisador de diversas áreas de humanas falarão sobre a noção do tempo em sua especialidade. Na série “Muito além da relatividade”, aos domingos, físicos e escritores especializados em física nacionais ou internacionais abordarão aspectos pouco conhecidos sobre a vida, o contexto histórico ou a obra de Einstein. As palestras e debates acontecerão no auditório junto à exposição, nos sábados às 15h e nos domingos às 11h. Assim que definida, a programação será anunciada no endereço www.revistapesquisa.fapesp.br. A partir de novembro, Pesquisa FAPESP trará reportagens sobre as palestras e os debates, cujas íntegras também estarão disponíveis no site da revista.

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