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Brasil

O rei dos rios do Sudeste

Não deveria ser assim tão fácil pescar tucunarés na represa próxima a Miguelópolis, cidade no extremo norte do Estado de São Paulo.  Esse peixe de até 9 quilogramas não é natural dessa região, mas sim da Amazônia. Criados em pesqueiros particulares, alcançaram o rio nas cheias mais intensas da década de 1980. Suspeita-se ainda que pescadores imprudentes tenham soltado alevinos desse peixe no reservatório – um crime ambiental. A conseqüência mais evidente da introdução dessas duas espécies de tucunaré – o azul (Cichla cf. ocellaris), nativo do rio Solimões, e o amarelo (Cichla monoculus), do Araguaia – é a alteração de hábitos alimentares e da velocidade de desenvolvimento e reprodução desses peixes. Em estudos publicados no Brazilian Journal of Biology, os zoólogos Leandro Gomiero e Francisco Braga, ambos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, interior de São Paulo, constataram que os tucunarés de Volta Grande atingem a idade reprodutiva em apenas um ano, enquanto nos rios amazônicos levam o dobro do tempo para atingir a maturidade sexual. Além de procriar mais rápido, os tucunarés da represa do rio Grande apresentaram uma dieta menos variada: tilápias, corvinas e mesmo filhotes de tucunarés. Incomum na Amazônia, o canibalismo confirma o empobrecimento da fauna de peixes no Sudeste, onde antes havia dourados, pintados e jaús. “O dano maior para os peixes foi a construção da barragem”, afirma Gomiero.

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