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Comunicação

Os caminhos da desinformação nas redes sociais na pandemia

Afirmações sem fundamento sobre vacinas e supostos tratamentos contra a Covid-19 ganham espaço nas plataformas digitais e criam bolhas isoladas

Difundidas pelas redes sociais, informações falsas ou distorcidas acabam sendo adotadas como verdades por parte da população

Fotomontagem com ilustração de Dustin Humes e fotos de Léo Ramos Chaves

É possível que você já tenha recebido ou compartilhado algum conteúdo informativo nas redes sociais ou no WhatsApp e depois percebeu que ele era desatualizado ou continha informações falsas. No mar de informações dos ambientes digitais, episódios como esse se multiplicam. Esse fenômeno, chamado de desinformação, engloba o compartilhamento e a criação de conteúdos totalmente falsos, como as fake news e as teorias da conspiração, até informações reais, mas distorcidas ou antigas que são trazidas à tona meses ou até anos depois. Nesse cenário, estudos de pesquisadores brasileiros procuram desvendar os caminhos e agentes da desinformação sobre a pandemia nas plataformas digitais – algo que a Organização Mundial da Saúde classificou como infodemia.

A própria imprensa tradicional profissional, considerada uma aliada no combate à desinformação por produzir conteúdo que é verificado, pode ser usada para espalhar desinformação quando os títulos de reportagens estão mal formulados e dão margem a outras interpretações. Foi o que mostrou um estudo publicado em março na revista científica M/C Journal. A análise de 20 URLs (endereços eletrônicos) de reportagens brasileiras mais compartilhadas sobre a pandemia em 1.632 grupos no Facebook mostrou que em 43,8% deles os usuários só compartilharam textos cujos títulos poderiam reforçar algum tipo de informação distorcida. Eram manchetes como “’Desemprego é uma crise muito pior que o coronavírus’, diz Bolsonaro” ou “Anvisa suspende ensaio da vacina CoronaVac após ‘evento adverso grave’”. Ainda nesses grupos, 81,8% das mensagens escritas pelos usuários ao compartilharem os links dessas reportagens reproduziam algum tipo de desinformação minimizando a gravidade da pandemia, as medidas de contenção e as vacinas. Com isso, veículos de informação foram usados para reforçar ideias que não se apoiam em evidências científicas. O material foi coletado em março, junho e novembro de 2020.

“Nas redes sociais, muitas vezes as pessoas leem apenas os títulos”, observa a jornalista Raquel Recuero, coordenadora do Laboratório de Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais (Midiars) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e uma das autoras do artigo. “Mesmo que as matérias tragam informação correta, se a manchete dá margem para uma interpretação controversa ela pode ser usada para reforçar narrativas de desinformação”, alerta ela, que é também pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo Recuero, há duas hipóteses para a aparente falta de leitura dos textos completos. Em pacotes de internet móvel, é comum o usuário ter acesso gratuito a plataformas de redes sociais, mas, ao clicar na notícia e ser levado para um site, ele precisa pagar por esse uso – prática conhecida como Zero-rating. Há também o paywall, uma barreira imposta pelos veículos jornalísticos que cobram pelo acesso às notícias, o que impede não assinantes de lerem o texto todo.

Uma característica comum aos títulos de reportagens que dão margem para interpretações errôneas é apresentar declarações polêmicas sem nenhum complemento que esclareça se tratar apenas de uma opinião sem evidências. Por isso, Recuero destaca que os jornalistas precisam redobrar o cuidado ao escolher os títulos das reportagens sobre a pandemia. “Geralmente são títulos bombásticos, que parecem ter sido escolhidos para chamar a atenção para um absurdo, mas que podem ser lidos de maneira distorcida e usados com outras finalidades”, alerta.

A análise dos 1.632 grupos também mostrou que aqueles que só compartilham desinformação formaram uma bolha, isto é, estavam conectados apenas a quem tinha postura semelhante. As bolhas são velhas conhecidas em estudos de análise de redes sobre temas políticos como as eleições, mas a atual pandemia tem mostrado que assuntos de saúde pública podem criar polarizações. “Como os usuários filtram os conteúdos e só compartilham informações com as quais concordam, quem está nesses grupos acredita que todo mundo pensa daquela forma. Quanto mais vozes dizem a mesma coisa, mais parece que aquela desinformação tem fundamento”, diz Recuero. Ao analisar as principais palavras-chave das mensagens dessa bolha, o grupo da UFPel observou que elas estavam alinhadas às manifestações do presidente Jair Bolsonaro, corroborando suas críticas às autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), endossando a ideia de que medidas como quarentena e distanciamento social eram desnecessárias ou enquadrando vacinas como perigosas.

Em outro estudo, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reforçam esse mesmo alerta. Com o objetivo de entender como a infodemia poderia afetar o debate público sobre vacinação e como a desinformação aparecia nesse cenário, eles analisaram 94 links de conteúdos sobre vacinas com mais engajamento nas redes sociais Facebook, Twitter, Pinterest e Reddit em 2020. No total, 91,5% dos links tinham conteúdo sobre Covid-19 e 13,8% foram classificados como desinformativos. Entre os links que tinham desinformação, 61,5% eram de notícias produzidas pela imprensa. Os resultados foram publicados em maio de 2021 na revista científica Liinc em Revista, do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

Entre 2018 e 2019, os pesquisadores da Fiocruz já haviam feito um levantamento similar, usando a mesma metodologia, sobre os links com maior engajamento sobre vacinas, com a análise de 89 URLs. Naquele momento, a maior parte (83,3%) do conteúdo desinformativo foi produzida por veículos não profissionais. O uso da mesma metodologia permitiu a comparação entre os cenários de antes e de depois da pandemia e revela uma mudança de atores no ecossistema de desinformação. “Na pandemia, o fluxo de informações se potencializa. As pessoas estão interessadas em ler sobre as vacinas porque há um impacto direto na saúde delas: é preciso decidir se vão tomar ou não”, observa a jornalista Luisa Massarani, coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e autora principal do artigo. “No entanto, observamos que o engajamento em conteúdos de desinformação cresceu de maneira expressiva.”

Raquel Recuero / UFPel Grafos mapeiam conexões entre atores nas redes sociais e ajudam a identificar bolhas e encontrar caminhos de contato; aqui, polarização da discussão sobre o uso de máscaras no TwitterRaquel Recuero / UFPel

WhatsApp e as teorias da conspiração
“Muita gente pode tomar decisões importantes sobre a própria saúde com base no conteúdo que consome. Por isso, a desinformação virou um problema de saúde pública”, afirma a enfermeira Ísis Umbelino Walker, que defendeu mestrado em saúde global pela Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, em abril deste ano. Preocupada com uma possível hesitação diante das vacinas contra a Covid-19 no Brasil, ela observou como o tema se desenrolou em grupos abertos de WhatsApp, com informações coletadas por meio do banco de dados WhatsApp Monitor. Para isso, ela usou um software para filtrar mensagens enviadas de novembro a dezembro de 2020 que mencionavam alguma das vacinas autorizadas pela Anvisa e que foram encaminhadas mais de 10 vezes. De 359 mensagens, 239 continham algum tipo de desinformação.

A análise das mensagens permitiu traçar a correlação entre as vacinas citadas nos textos distorcidos e o tipo de hesitação que a narrativa apresentava, sugerindo que os receios construídos são diferentes para cada tipo de imunizante e que a plataforma é um celeiro de teorias da conspiração. “Com a CoronaVac, houve correlação relacionada à transparência do seu processo de desenvolvimento, afirmando que a China teria criado o vírus e depois oferecido a solução, para lucrar”, conta Walker. Com a Pfizer, havia receios relacionados com aspectos da segurança da imunização. “Algumas teorias diziam ela foi criada para alterar o DNA de crianças e torná-las andróginas.” Quando o termo usado nas mensagens era mais geral, como “vacina contra Covid-19”, a correlação maior estava ligada à ideia de “liberdade individual” e a de que o Estado não poderia obrigar a vacinação.

Em um período marcado pela divulgação de resultados dos estudos clínicos das vacinas, Walker observou 12 picos de compartilhamento das mensagens. Um deles foi registrado no dia 9 de novembro de 2020, logo após a Anvisa suspender temporariamente os testes clínicos com a CoronaVac e o presidente Jair Bolsonaro comemorar a ocasião como uma “vitória” em suas redes sociais. “Pronunciamentos do presidente desconfiando da vacina proferidos pouco antes dos picos sugerem que ele contribuiu com a hesitação vacinal”, avalia ela.

“No WhatsApp, normalmente recebemos informações de familiares e amigos, o que aumenta a chance de confiar naquele conteúdo”, diz Recuero, da UFPel, que também encontrou teorias da conspiração e uma correlação entre o discurso do presidente brasileiro e narrativas de desinformação sobre Covid-19 no WhatsApp. Outro estudo do laboratório Midiars, coordenado por Recuero, analisou 802 mensagens sobre a pandemia coletadas de grupos públicos entre março e abril de 2020, em artigo publicado em 4 de junho deste ano no periódico científico Ciência da Informação em Revista. A pesquisa considerou 41% das mensagens como teorias da conspiração e 39% como distorção – quando há uma informação verdadeira, mas ela é modificada ou tirada de contexto. Uma característica comum nessas mensagens é o tom de alerta e urgência, que estimula as pessoas a passar a desinformação adiante.

“No nosso diagnóstico, o grande problema que enfrentamos é o enquadramento político-partidário de um tema que deveria ser de saúde pública”, avalia Recuero. “Em outras palavras: você não usa máscara se está alinhado com um lado e usa se está de acordo com outro. Dá a impressão de que são duas torcidas rivais de times de futebol.”

Fotomontagem com reproduções de firstdraftnews.org O First draft é um projeto internacional no qual pesquisadores monitoram as redes e fornecem informação à imprensaFotomontagem com reproduções de firstdraftnews.org

A desinformação pode ser lucrativa
Nos Estados Unidos, a desinformação sobre Covid-19 e suas consequências têm preocupado o governo federal – com o estoque de vacinas abastecido, agora o país enfrenta hesitação vacinal. Em 16 de julho deste ano, ao ser questionado por um repórter sobre o problema em plataformas como o Facebook e qual recado deixaria para elas, o presidente Joe Biden afirmou que “elas estão matando gente”. Em seguida, continuou: “A única pandemia que temos agora é entre quem não foi vacinado”.

“Tem muita gente ganhando dinheiro com a desinformação. Ela pode ser lucrativa tanto para quem produz quanto para quem realiza a distribuição, no caso das plataformas que as distribuem”, ressalta a jornalista Dayane Machado, estudante de doutorado no Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Entrevista: Dayane Machado
00:00 / 23:21

Como parte de seus estudos sobre desinformação e o movimento antivacinas, Machado e outros colegas do DPCT e da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, sugeriram que o YouTube estaria contribuindo com a propagação de informações falsas sobre vacinação ao permitir que criadores brasileiros monetizassem seus vídeos, gerando lucro para eles e para a própria plataforma. Os resultados, publicados em outubro de 2020 na revista científica Frontiers in Communication, estão baseados na análise de 52 vídeos de 20 canais diferentes – 13 deles continham anúncios de 39 marcas como Fiat, Buscopan e Philips.

Como os dados foram coletados entre fevereiro e março de 2020, eles não abarcaram o período em que surgiram as vacinas contra a Covid-19 – algo que Machado está estudando no doutorado. Mas essa primeira análise já apontou receio similar ao visto na primeira fase da pandemia. Os principais argumentos dos vídeos antivacina naquele primeiro momento foram de que elas causariam doenças, que continham substâncias perigosas e a preocupação com a liberdade individual de decidir sobre vacinar-se ou não. E muita teoria da conspiração.

“Com a pandemia, o YouTube se comprometeu a combater a desinformação na plataforma, mas percebemos que, pelo menos no caso dos canais em português, os produtores de conteúdo falso continuaram publicando tranquilamente, sem ser incomodados”, afirma a pesquisadora. Com o prosseguimento da pandemia em 2021, Machado decidiu retornar aos 20 canais desinformativos sobre vacina encontrados na primeira pesquisa e percebeu que parte deles ainda estava monetizada.

A pesquisadora juntou a essa amostra inicial outros 30 canais, somando 1.760 vídeos sobre a pandemia publicados entre fevereiro e agosto de 2020. Em análises preliminares, já encontrou distorções e informações falsas minimizando a pandemia, o uso de máscaras e as vacinas contra a Covid-19. “Os criadores de desinformação pedem que o público ‘pesquise por si mesmo’ usando palavras específicas e defendem que o funcionamento das plataformas é neutro, quando isso não é verdade. As pessoas encontram material conspiratório e acham que são informações confiáveis”, diz ela.

Isso ocorre porque, assim como em outras plataformas, os usuários que se embrenham em conteúdo radicalizado passam a encontrar cada vez mais esse tipo de material. Por isso, além de criar políticas de controle de informações falsas, a plataforma – assim como outras redes – deveria trabalhar em seus algoritmos, sugere o cientista da computação Virgílio Almeida, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Eles poderiam ser programados para valorizar as fontes seguras de informação, como as instituições de pesquisa que são referência na pandemia. Com isso, as postagens delas teriam mais visibilidade e poder de engajamento entre o público”, diz o pesquisador. Almeida ressalta a importância do processo de moderação dos conteúdos por parte das plataformas, que seria ameaçado pelo projeto de lei anunciado em 19 de setembro pelo governo. A tentativa, que deve encontrar resistência no Congresso, se segue ao fracasso da medida provisória sobre o tema assinada no início do mês pelo presidente Jair Bolsonaro e barrada pelo Senado e pelo Supremo Tribunal Federal em 14 de setembro. “A ideia contraria o Marco Regulatório da internet e tornaria mais complicado remover postagens e perfis que publicam notícias falsas”, explica Almeida.

Questionado por Pesquisa FAPESP, o YouTube afirmou, por meio de nota enviada por e-mail, que não permite vídeos que promovam desinformação sobre o coronavírus. “Em abril de 2021 passamos a remover também vídeos que recomendam o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina para o tratamento ou prevenção da Covid-19, fora dos ensaios clínicos, ou que afirmam que essas substâncias são eficazes e seguras no tratamento ou prevenção da doença, salvo se houver contexto educacional, documental, científico ou artístico suficiente”, detalha o comunicado. “Também não permitimos conteúdo sobre as vacinas contra Covid-19 que seja contrário ao consenso de especialistas de autoridades locais da saúde ou da OMS.” A plataforma relata que desde o início da pandemia removeu mais de 1,3 milhão de vídeos por violarem tais regras.

Também por meio de nota, o Facebook afirma que “remove conteúdos falsos sobre Covid-19 que têm o potencial de causar danos no mundo real”. O texto explica que a plataforma conta com a parceria de agências verificadoras de fatos que analisam conteúdos que, quando marcados como falsos, são rotulados no Facebook e no Instagram e têm seu alcance reduzido. O Facebook também responde pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Nesse caso, a nota afirma que “não tem acesso ao conteúdo das mensagens trocadas entre usuários e não realiza moderação de conteúdo”.

Em 29 de setembro, o Youtube anunciou a expansão de suas políticas de combate à desinformação com novas diretrizes sobre vacinas além daquelas contra Covid-19. “Estamos em um ponto em que é mais importante do que nunca expandir esse trabalho”, informou a plataforma no texto publicado em seu blog oficial. Dayane Machado ressalta que, apesar de ser essencial a atualização de políticas de uso que combatam desinformação, ela as vê com certo ceticismo. Para a pesquisadora da Unicamp, as empresas “trabalham devagar e de forma reativa, propondo estratégias de mitigação somente quando o problema se torna intolerável. Isso dá tempo e liberdade para os produtores de desinformação se organizarem, alcançarem públicos gigantescos, fidelizarem a audiência e monetizarem o conteúdo”. Ela lembra que o problema da desinformação sobre vacinas já é velho conhecido. “Por anos, as plataformas vêm lançando políticas que prometem grandes resultados, mas o que as pesquisas mostram repetidamente é que a desinformação continua circulando e que os grandes influenciadores continuam ganhando espaço e lucrando”, diz.

reprodução Youtube Campanha israelense no YouTube usou humor para desmentir notícias falsas sobre vacinasreprodução Youtube

Para combater é preciso acolher
É preciso combinar estratégias no combate à desinformação. Logo no início da pandemia, pesquisadores, universidades e institutos de pesquisa se mobilizaram para criar canais on-line e desmentir informações falsas. Agências de checagem de fatos e veículos de comunicação passaram, igualmente, a produzir esse tipo de conteúdo. Para Walker, é fundamental acolher as pessoas que acreditam nas notícias falsas. “Alguém que acredita em teorias da conspiração pode ter uma preocupação legítima sobre a vacina que vão colocar no corpo dela. É preciso perguntar: o que te assusta? E trazer essas narrativas para as próprias campanhas de vacinação”, propõe a enfermeira. Ela cita como exemplo um vídeo publicado pelo governo de Israel, no qual o então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aparece, de forma bem-humorada, desmentindo informações falsas sobre as vacinas. As mídias de massa como a televisão e o rádio também podem ser aliadas nesse processo. “Como a mídia de massa não funciona na mesma lógica das mídias sociais, ela poderia auxiliar a furar essas bolhas”, avalia Recuero.

Outra ação importante seria reunir jornalistas e pesquisadores em torno de um monitoramento das desinformações que circulam nesses grupos on-line, como uma forma de acompanhar os principais boatos e, quando necessário, se antecipar a eles. “Um bom exemplo é o projeto internacional First Draft, no qual pesquisadores monitoram essas redes e publicam relatórios curtos e relevantes para a imprensa”, comenta Machado.

A educação midiática é outra ferramenta nessa guerra à desinformação. Nela, o público conhece o processo de produção de uma notícia, vê como é feita a escolha das fontes de informação e como funcionam os veículos. Nos últimos anos, a área tem incorporado também o estudo sobre informações falsas. “Com o aumento da circulação de fake news, aumentou o debate sobre a importância da educação midiática. Quanto mais as pessoas souberem como funcionam os meios de comunicação, mais poderão consumir notícias de forma crítica”, avalia o jornalista Ivan Paganotti, coordenador do grupo de pesquisa Checagem, Educação, Comunicação, Algoritmos e Regulação (Checar) da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).

Há 15 anos, Paganotti é professor de atualidades em um colégio de São Paulo. Com os alunos, discute a importância de selecionar fontes verificáveis de informação, os convida a refletir sobre as notícias e a procurarem informações em mais de um veículo, com perspectivas complementares. “Sempre digo para eles se perguntarem: como o conteúdo chegou até mim? Qual fonte originou a informação? Ela tem credibilidade e costuma publicar notas quando erra? A informação tem espaço para o contraditório – se uma pessoa foi denunciada, por exemplo, ela foi ouvida? A data de publicação é recente? Todos esses elementos ajudam a perceber se o conteúdo é confiável”, explica.

Para levar a educação midiática além das salas de aula, Paganotti e colegas pesquisadores criaram em 2018 o curso gratuito on-line Vaza, Falsiane!, que tem o apoio do Facebook. Além de explicar sobre as armadilhas da desinformação, em 2021 o curso ganhou um módulo especial sobre informações falsas e pandemia. A experiência com o projeto foi detalhada em um artigo publicado em 2021 na revista Intexto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do qual Paganotti é o principal autor. Com perfis nas principais redes sociais, o curso publica posts com alertas e dicas bem-humoradas. “Não podemos combater a desinformação só no nosso site, precisamos ir à guerra no território em que ela circula”, diz ele.

Artigos científicos
SOARES, F. e RECUERO, R. How the mainstream media help to spread disinformation about Covid-19. M/C Journal, v. 24, n. 1, 13 mar. 2021.
MASSARANI, L. M. et al. Infodemia, desinformação e vacinas: A circulação de conteúdos em redes sociais antes e depois da Covid-19. Liinc em Revista, v. 17, n.1, mai 2021.
SOARES, F. B. et al. Desinformação sobre a Covid-19 no WhatsApp: A pandemia enquadrada como debate político. Ciência da Informação em Revista, v. 8, n. 1, p. 74–94, 4 jun 2021.
MACHADO D. F. T. et al. Natural stings: Selling distrust about vaccines on Brazilian YouTubers. Frontiers in Communication, v. 5, 577941, 26 out. 2020.
PAGANOTTI, I. et al. “Vaza, Falsiane!”:Iiniciativa de letramento midiático contra notícias falsas em redes sociais. Intexto, n. 52, jan. 2021.

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