Reduzida a cerca de 10% de sua área original após 500 anos de desmatamento, a mata atlântica tem uma grande capacidade de armazenar carbono no solo e em suas árvores. “Cada hectare de mata atlântica pode estocar até 500 toneladas de carbono, enquanto na Amazônia esse número não chega a 300 toneladas”, disse a agrônoma Simone Vieira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em sua palestra do Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação, no dia 25 de junho, em São Paulo. Apesar de estocar carbono de modo mais eficiente, a mata atlântica ocupa apenas 130 mil quilômetros quadrados, área quase quatro vezes menor que a da floresta amazônica.
Segundo Simone, o solo da mata atlântica estoca proporcionalmente mais carbono que o da Amazônia possivelmente devido às temperaturas mais baixas do Sudeste do país. A variedade de paisagens da mata atlântica – com vegetações de dunas, restingas, mangues, matas de araucária e florestas úmidas densas – contribui para que a mata atlântica apresente variações no tipo de solo, na disponibilidade de água e na duração dos períodos de seca, fatores que influenciam a capacidade do ecossistema de armazenar carbono.
Simone e seus colaboradores pretendem entender como as variações de temperatura previstas para as próximas décadas podem influenciar a estocagem de carbono na mata atlântica. Em estudos do programa Biota-FAPESP, eles investigam esse efeito coletando amostras de solo a diferentes altitudes. Assim, tentam entender como a quantidade de carbono armazenada varia segundo a temperatura. “Resultados preliminares sugerem que, quanto mais alta a temperatura, menor é a capacidade de estocar carbono”, disse Simone. Se os resultados se confirmarem, o aumento de poucos graus na temperatura do planeta pode transformar a mata atlântica, hoje um sorvedouro de gás carbônico (CO2), em fonte emissora do composto, o principal gás do efeito estufa.
Mudanças no uso e no manejo do solo também afetam a emissão de gases na Amazônia. Um estudo recente publicado na Global Change Biology mostrou que perturbações ambientais como o corte seletivo de árvores e o uso de fogo para manter pastagens emitiram 54 milhões de toneladas de CO2 em 2010 (40% do carbono emitido pelo desmatamento na região naquele ano).
Outro trabalho deste ano, coordenado pela química Luciana Gatti, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, descreveu um cenário mais preocupante. Ela calculou o balanço de carbono da Amazônia em 2010 e 2011, os anos mais quentes em três décadas e com variação significativa no regime de chuvas. Em 2011, muito úmido, a floresta absorveu 250 milhões de toneladas de carbono, enquanto as queimadas lançaram 300 milhões de toneladas à atmosfera. Em 2010, bem mais seco, a floresta emitiu mais do que absorveu por causa da falta de chuvas e do aumento das queimadas (ver Pesquisa FAPESP nº 217). Esses resultados sugerem que, se o aumento da temperatura se concretizar, a região pode se tornar emissora de CO2, intensificando o aquecimento global.
As queimadas na Amazônia para a abertura de pastagens, exploração da madeira e agricultura estão alterando ainda o ciclo de nutrientes como o nitrogênio, segundo a bióloga Gabriela Nardoto, da Universidade de Brasília (UnB), que participou do ciclo de conferências.
A substituição de floresta por pastagens e outras atividades agrícolas tem reduzido a absorção de nutrientes nesses ecossistemas tropicais. “A ciclagem de nutrientes é uma das funções mais importantes na regulação dos ecossistemas”, disse Gabriela. É que a disponibilidade de nutrientes determina a distribuição de plantas em diferentes ambientes.
A baixa disponibilidade de nitrogênio e fósforo também pode limitar o crescimento das florestas secundárias (áreas convertidas em pastagens e depois abandonadas) na Amazônia. Ao mesmo tempo, ela ressaltou, as queimadas alteram o ciclo do nitrogênio, essencial para o crescimento das plantas. “O nitrogênio, em estado gasoso, representa 78% da atmosfera”, disse. “Mas, para que seja aproveitado pelas plantas, é necessário que as bactérias em suas raízes o capturem e o transformem em outros compostos, que serão então transformados no solo em amônio e nitrato.”
O nitrogênio armazenado na forma de amônio e nitrato é um dos parâmetros usados pelo agrônomo Plínio Barbosa de Camargo para avaliar a qualidade da água do município de Extrema, em Minas Gerais. Camargo, que também esteve na última edição do Biota-FAPESP, busca indicadores para avaliar a qualidade da água em áreas de reflorestamento na bacia do ribeirão das Posses. “A ideia é comparar áreas reflorestadas com diferentes idades de plantio e áreas agrícolas e ver se houve melhora nas condições de qualidade e quantidade de água.”
Esse foi o último encontro do Ciclo de Conferências Biota-FAPESP Educação, iniciado em 2013. Segundo Carlos Joly, coordenador do Biota-FAPESP, o programa pretende lançar em 2015 uma chamada de projetos que contribuam para melhorar a qualidade da educação científica e ambiental de professores e alunos do ensino médio.
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