A publicação de artigos em revistas científicas ainda é considerada o principal caminho a ser usado por pesquisadores interessados em expor os resultados de suas investigações, obter reconhecimento de seus pares e avançar na carreira. Uma estratégia complementar, mas crescentemente importante, é a realização de apresentações públicas, seja na própria instituição onde o pesquisador atua, em seminários ou conferências, no país ou no exterior. Além de propiciar visibilidade ao trabalho dos cientistas, essas atividades também podem contribuir para o estabelecimento e a manutenção de redes de contatos e, eventualmente, abrir caminho para oportunidades e colaborações promissoras.
A importância das apresentações e os benefícios que elas podem oferecer ao desenvolvimento da carreira dos pesquisadores são reconhecidos e valorizados em países desenvolvidos. No Reino Unido, instituições como a Universidade de Cambridge, por exemplo, oferecem cursos de curta duração dedicados ao treinamento de alunos e jovens pesquisadores na estruturação de comunicações mais estimulantes.
No Brasil, essa percepção é incipiente, ainda que por aqui, como lá, muitos pesquisadores não consigam organizar as informações de modo claro, objetivo e atraente, ou sofram para falar em público. Para driblar a ansiedade e o nervosismo, é comum apegarem-se a gráficos e tabelas muitas vezes confusos ou reproduzir slides herméticos e com textos longos, o que tende a comprometer a qualidade da apresentação e a compreensão de seu conteúdo pelo público. A depender de quem estiver na plateia, uma apresentação desinteressante ou ininteligível pode inviabilizar oportunidades de trabalho e novos chamados para participação em outros eventos.
Convites para falar em público são importantes e podem funcionar como termômetro, auxiliando pesquisadores no monitoramento do grau de interesse que suas pesquisas despertam, não apenas entre seus pares, mas no público em geral. É igualmente possível valer-se desses eventos para obter retorno imediato do público, o que pode, em alguma medida, contribuir para o aprimoramento da pesquisa, caso ela ainda esteja em andamento, além de outros desdobramentos positivos, como atrair novos pesquisadores para a sua área de conhecimento ou ampliar o entendimento sobre o campo ao qual se dedica.
Uma apresentação bem-feita exige prática e, sobretudo, planejamento, avalia a biomédica Monica Levy Andersen, do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “É importante se preparar com antecedência”, diz. “O planejamento ajudará o pesquisador a estabelecer quais são os objetivos da apresentação e as ferramentas mais adequadas para alcançá-los”, destaca a biomédica, que tem ampla experiência com palestras sobre os efeitos da privação de sono no organismo humano.
Na avaliação de Andersen, um dos principais equívocos cometidos pelos pesquisadores na elaboração de uma apresentação é não saber o perfil do público para o qual se apresentará. “É importante identificar a audiência e conseguir adaptar o conteúdo da palestra a ela”, recomenda. “Falar para um grupo de cientistas em uma reunião de departamento ou em um congresso da área não é a mesma coisa que se apresentar para alunos do ensino médio ou de graduação.”
Para o neurocientista Stevens Rehen, do Instituto D’Or e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentações excessivamente complicadas, centradas apenas na mensagem que o pesquisador quer passar, sem espaço para a curiosidade do público, podem se tornar monótonas e incapazes de produzir o efeito desejado. Diante disso, ele sugere o uso de elementos de fácil compreensão. “É desejável que o cientista selecione as informações de acordo com o objetivo da apresentação”, explica o neurocientista.
Rehen recomenda o uso de ferramentas que tornem a comunicação mais amigável. “Costumo usar o Prezi, que permite a criação de apresentações não lineares. Assim como ele, existem outros softwares que propiciam a elaboração de apresentações dinâmicas e atraentes”, comenta. A médica Elsa Regina Giugliani, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também destaca a importância de os pesquisadores situarem suas falas em contextos mais amplos e de indicarem a importância do que vai ser apresentado. Ao final, um pequeno resumo do conteúdo compartilhado pode ajudar o público a reter as principais informações abordadas. “É importante que isso tudo seja feito se levando em conta o tempo da apresentação”, recomenda.
Giugliani considera adequado que os pesquisadores se dirijam diretamente à plateia, evitando a leitura de slides. “É importante interagir com o público”, ela afirma. “O uso de slides deve funcionar como guia, apenas para indicar ao pesquisador o que será abordado.” Treinar previamente a apresentação, sozinho ou com integrantes do seu grupo de pesquisa, também pode ser útil. É o que faz Rehen. “Pratico de frente para o espelho, contando os minutos, para avaliar se minha fala está bem estruturada e dentro do tempo estabelecido”, ele conta.
A psicóloga Ana Arantes, do Laboratório de Aprendizagem Humana, Multimídia Interativa e Ensino Informatizado da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), prepara suas apresentações com pelo menos uma semana de antecedência. “Assim posso fazer revisões até o dia de torná-la pública.”
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