MARCOS GARUTIPesquisadores de São Paulo e do Reino Unido terão oportunidade de intensificar e estreitar colaborações científicas graças a dois acordos de cooperação celebrados em Londres pela FAPESP no mês passado. O primeiro deles foi assinado no dia 15 de setembro com os Conselhos de Pesquisa do Reino Unido (RCUK, na sigla em inglês). O segundo, firmado um dia depois, teve como parceiro o King’s College London, que se tornou a primeira universidade britânica parceira da FAPESP. O objetivo é comum em ambos os acordos: estimular e apoiar projetos conjuntos propostos por pesquisadores paulistas e britânicos. “A dimensão da internacionalização é ingrediente importante no aprofundamento da cooperação da FAPESP com instituições britânicas e é uma forma de criar um processo de integração e trabalho conjunto de pesquisadores”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP.
Os Conselhos de Pesquisa do Reino Unido investem anualmente cerca de £ 2,8 bilhões (R$ 8 bilhões). Reúnem sete conselhos, cada qual responsável pelo apoio à pesquisa em um determinado campo do conhecimento. Na cerimônia de assinatura do acordo, destacou-se o fato de ser a primeira vez que os sete conselhos se articularam para, conjuntamente, firmar uma parceria com uma agência de outro país. “Os RCUK são dedicados a promover a colaboração com os melhores dos melhores, e esse acordo demonstra nosso comprometimento em ampliar as oportunidades para pesquisadores”, explica Ian Diamond, presidente dos RCUK.
Pesquisadores britânicos, em associação com colegas vinculados a instituições do estado de São Paulo, deverão apresentar propostas conjuntas a uma ou mais entidades pertencentes aos RCUK, que informarão a FAPESP sobre a submissão do projeto. A análise será feita simultaneamente no Brasil e na Grã-Bretanha. As normas e o cronograma para apresentação de propostas serão divulgados em breve. A FAPESP e os RCUK destinarão recursos a cada projeto na proporção em que os pesquisadores de cada país participarem dele. “A intenção do acordo é apoiar pesquisas que busquem descobertas científicas de grande impacto mundial, em todas as áreas do conhecimento”, diz o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz.
O reconhecimento da importância da produção científica brasileira – e a paulista, em particular – foi determinante para viabilizar o acordo entre a FAPESP e os RCUK. “Na cerimônia em que o acordo foi assinado houve apresentações de vários cientistas que, em comum, destacavam a qualidade da pesquisa que se faz em São Paulo, em termos de impacto e dos temas estudados”, afirmou Brito Cruz, da FAPESP. “Esse reconhecimento revela uma boa oportunidade a ser explorada pelos pesquisadores brasileiros.”
É sabido que a ciência do país vem conquistando mais visibilidade global: o número de revistas científicas nacionais indexadas na base de dados internacional Web of Science-ISI (WoS) aumentou 205% entre 2002 e 2008. A razão do aumento, de acordo com a Thomson Reuters, responsável pela WoS, tem sido o crescimento do interesse mundial pela pesquisa científica brasileira, cuja qualidade se tornou mais reconhecida. O apoio das agências de fomento é um dos principais combustíveis para o fôlego da pesquisa produzida no país. A FAPESP, por exemplo, investiu em 2008 R$ 637,9 milhões no apoio à pesquisa científica e tecnológica. “Pesquisadores do estado de São Paulo são hoje responsáveis por 50% dos artigos científicos publicados em revistas estrangeiras”, afirma Brito Cruz. Dados de 2007 da Thomson Reuters mostram que essa contribuição paulista é especialmente destacada em medicina clínica (62% do total nacional), materiais (58%), biologia e bioquímica (56%) e genética e biologia molecular (55%).
Contribuição
Numa apresentação feita na assinatura do acordo com os RCUK, Jonatham Adams, da Evidence, empresa de análise de dados de pesquisa ligada à Thomson Reuters, mostrou dados segundo os quais o impacto da pesquisa feita em São Paulo é significativamente maior do que a média brasileira (ver gráfico). “Em algumas áreas de pesquisa, é evidente que São Paulo não está apenas acima da média do impacto para o país, mas também acima da média mundial”, afirmou, referindo-se à contribuição dos pesquisadores do estado em áreas como medicina, física nuclear, materiais e conservação da biodiversidade. A conclusão de Adams, com base nas análises feitas pela Evidence, foi que São Paulo se constitui em um excelente parceiro para a colaboração internacional, com uma base de pesquisa forte e crescente.
No caso do acordo com o King’s College London, a parceria também apoiará a realização de projetos de pesquisa conjuntos – que podem incluir o intercâmbio de pesquisadores e de alunos de pós-graduação – em todas as áreas do conhecimento, selecionados por meio das chamadas de propostas, que serão realizadas a cada dois anos. Áreas prioritárias podem ser estabelecidas dentro das chamadas por um comitê gestor encarregado da administração do programa.
O King’s College é uma das 25 melhores instituições de ensino superior no mundo, segundo o levantamento Times Higher Education 2008. Fundada pelo rei George IV e pelo duque de Wellington, então primeiro-ministro, em 1829, é a quarta mais antiga universidade na Inglaterra. “Ficamos felizes que a FAPESP tenha nos escolhido como parceiro para projetos de pesquisa internacionais”, disse Keith Hoggart, vice-reitor para Artes e Ciências da instituição britânica. “O Brasil é um país de grande importância para nossa instituição, e tenho certeza de que a assinatura deste acordo marca o início de uma colaboração importante que estimulará relações de pesquisa e levará ao desenvolvimento de pesquisas de alta qualidade por todas as áreas do conhecimento.” O acordo se soma a diversas relações entre o King’s College London e instituições de ensino e de pesquisa em São Paulo, como a Universidade de São Paulo. A universidade britânica sedia o Centro para o Estudo da Cultura e Sociedade Brasileiras.
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