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carta da editora | 327

Pesos e medidas

Que álcool em excesso faz mal, todo mundo sabe. A pergunta, para governos que definem políticas públicas e para quem gosta de beber, é: como se define excesso?

A resposta não é simples e muda à luz de novos conhecimentos. O limiar do tolerável depende, além do teor alcoólico da bebida e do tamanho da dose, de fatores como a idade de quem bebe, sexo, constituição física, genética, estilo de vida e estado geral da saúde. Mesmo estabelecidas as principais variáveis, não há consenso na literatura científica.

Há, sim, uma convergência na direção de que inexiste medida segura. Mesmo em quantidades mínimas, o álcool traz riscos à saúde, principalmente de problemas no coração, câncer, distúrbios mentais, cirrose, além de envolvimento em acidentes e violência física.

Essa convergência tem levado à revisão, por autoridades nacionais em diversos países, das recomendações de ingestão moderada de bebidas alcoólicas, mostra o editor Marcos Pivetta na reportagem que ilustra a capa desta edição.

Quatro anos atrás, a revista reportou a mudança na forma de mensurar o quilograma, a última das sete unidades fundamentais até então ainda calculada com base em um objeto físico. A medição do tempo já havia sido alterada na década de 1960, com a adoção de relógios atômicos para calcular a duração de 1 segundo, que passou a ser definida pelo tempo de transição de níveis de 1 átomo de césio 133 em repouso.

É assim que a ciência mede o tempo, mas e o cérebro, como cronometra segundos? Pesquisadores da UFABC, que procuram decifrar como diferentes regiões cerebrais codificam a passagem de intervalos breves, descobriram que essa atividade não é realizada de modo contínuo por uma única área do cérebro, como se pensava. Ao menos duas regiões trabalham de forma coordenada e consecutiva na execução dessa tarefa, mostram experimentos com ratos.

A febre amarela, contra a qual não existe cura, é objeto de pesquisa promissora, desenvolvida por pesquisadores da USP e da Fiocruz em colaboração com cientistas norte-americanos. Foram identificados dois anticorpos humanos com potencial de tratamento que, quando administrados a roedores e macacos, permitiram que eles sobrevivessem à infecção pelo vírus causador dessa febre hemorrágica.

Lembrando que os resultados ainda são preliminares, a possibilidade de um tratamento a uma doença que mata entre 20% e 50% dos pacientes indica um novo caminho nos estudos dessa doença endêmica no Brasil.

Em pauta correlata, reportagem mostra que investimentos públicos em pesquisas sobre doenças tropicais negligenciadas diminuíram significativamente no país nas últimas duas décadas. Febre amarela não integra mais o grupo, composto por moléstias como hanseníase e esquistossomose, que afetam principalmente populações e países pobres.

O tema é difícil, mesmo para adultos, então para educadores é oportuno o lançamento recente de livro gratuito com 62 verbetes sobre morte, luto e memória. Pensada para alunos do ensino básico, a publicação organizada por dois historiadores das universidades federais de Uberlândia e Pelotas tem como meta levar a discussão sobre como lidar com questões relativas à finitude humana para dentro das escolas desde cedo, de forma crítica, reflexiva, e fundamentada na ciência.

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