Pesquisadores do Goddard Space Flight Center da NASA, a agência espacial norte-americana, da Catholic University of America, nos Estados Unidos, e do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), identificaram a maior galáxia espiral já conhecida. Situada a uma distância de 212 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Pavo (ou Pavão), a NGC 6872, como é conhecida, tem 522 mil anos-luz de diâmetro – cinco vezes o tamanho da Via Láctea. Significa que para percorrê-la de uma ponta a outra seria necessário viajar à velocidade da luz (300 mil quilômetros por segundo) por 522 mil anos. Os detalhes do achado foram apresentados na última reunião da Sociedade Astronômica Americana, em janeiro, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores, a maioria brasileiros, combinaram dados obtidos por quatro telescópios para estimar o tamanho da galáxia, que já figurava entre as maiores do Universo. Um deles, o Galaxy Evolution Explorer (GALEX), analisa a luz ultravioleta emitida por corpos celestes recém-formados, como jovens estrelas superaquecidas, para observar galáxias. Isso porque a intensidade da luz ultravioleta de uma galáxia é proporcional à quantidade de estrelas novas que nela se formam.
De acordo com a astrônoma Claudia Mendes de Oliveira, da USP e uma das autoras da descoberta, a identificação de sua extensão completa se deu por acaso. “Estávamos procurando por casos onde colisões de galáxias são capazes de formar novos objetos, como aglomerados jovens de estrelas e galáxias anãs”. Para a pesquisadora, que é coordenadora de área de Astronomia e Ciência Espacial da FAPESP, a hipótese mais provável para explicar o tamanho descomunal da NGC 6872 é que ela resulte da colisão com uma galáxia próxima, a IC 4970, com apenas um quinto da massa de sua vizinha gigante.
Os pesquisadores apostam nessa ideia porque a NGC 6872 contém uma taxa muito alta de estrelas jovens. Segundo Claudia, essa interação permitiu à supergaláxia produzir estrelas novas em uma taxa e com uma eficiência muito maiores do que ocorreria se a galáxia estivesse isolada. Devido ao seu tamanho, acredita-se ainda que as regiões mais distantes de seu centro sejam também as mais jovens, já que o gás expelido durante a colisão entre as duas galáxias teria sido lançado do centro da NGC 6872 para as partes mais afastadas, o que teria contribuído para a formação de estrelas. “A luz ultravioleta emitida por essas estrelas jovens nos permite medir a idades desses objetos”, explica.
Também os gases expelidos durante essa colisão podem ter dado origem a outros objetos cósmicos, além de uma nova galáxia anã, localizada em um dos braços da NGC 6872. “Pretendemos agora obter espectros dessa nova galáxia para confirmar se ela se formou a partir da colisão das duas outras maiores”, afirma a astrônoma brasileira.
De modo geral, galáxias podem se formar por três processos: fusões com outras galáxias do mesmo porte; aquisições de galáxias menores; ou simplesmente por meio da formação de estrelas, que ocorre quando gases são coletados pelo potencial gravitacional de halos de matéria escura. Os três processos, no entanto, também podem contribuir para a formação de uma única galáxia.
Para o astrofísico brasileiro Dimitri Gadotti, do Observatório Europeu do Sul, no Chile, e um dos envolvidos na descoberta, um dos grandes desafios da astrofísica moderna é entender em que condições cada um desses processos é mais ou menos importante. “A NGC 6872 nos mostra que, em certas circunstâncias, é muito mais fácil formar estrelas do que se pensava antes. Isso faz com que tenhamos de reavaliar o papel dessas interações na formação de galáxias, que são as peças fundamentais do Universo.”
Além de Claudia e Dimitri, também fazem parte da equipe de brasileiros: Rafael Eufrasio, pesquisador assistente no Goddard Center Space Flight, e Duília de Mello, da Catholic University of America.
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