Os campos rupestres da serra do Cipó, em Minas Gerais, estão entre os terrenos menos nutritivos do mundo. Ali, uma diversidade surpreendente de plantas – estima-se que um terço das espécies nativas brasileiras – cresce, frequentemente, sobre rochas. Analisando essas plantas, pesquisadores vêm descobrindo maneiras criativas de buscar nutrientes (ver Pesquisa FAPESP nº 229). A novidade agora vem de duas espécies (Barbacenia tomentosa e B. macrantha) da família das velosiáceas, a mesma a que pertencem as canelas-de-ema. As raízes de B. tomentosa e B. macrantha têm extremidades repletas de pelos que secretam ácidos capazes de corroer as rochas e liberar fosfatos, compostos que contêm fósforo, elemento químico necessário para a multiplicação celular e o crescimento da planta (Functional Ecology, 9 de março). Aos poucos, as raízes penetram as rochas e se entranham nelas, absorvendo fósforo. Essas raízes ganharam um nome oficial: raízes velozioides. A identificação desse mecanismo exigiu o uso de microscópio tradicional e eletrônico, além de uma série de técnicas, como fluorescência de raios X e cromatografia. Coordenado pelo biólogo Rafael Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o estudo mostra uma função nova das raízes dessas plantas. “Elas desempenham um papel no intemperismo de rochas e na formação de solos que até então não era reconhecido”, diz. “Os geólogos consideram que a água, o vento e a temperatura cumprem esse papel. Aparentemente as plantas podem produzir efeitos mais importantes do que imaginávamos.”
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