O que a declaração do bioquímico espanhol Severo Ochoa ao receber o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1959 – “O amor é pura física e química” – teria a ver com a busca de uma ordem na natureza, um método, uma razão, a inteligibilidade que está por trás de cada ação científica? Para o autor Juan Nepote, é a imagem de mistério, a organização e a possibilidade de previsão que fazem a ciência ser tão atraente e apaixonante para os seus praticantes como o era para Ochoa. Nepote, físico de formação, pode ser descrito como um ativista da divulgação científica no México. Seu livro mais recente, Almanaque – Histórias de ciência e poesia, foi publicado por enquanto só Brasil, por iniciativa da Editora da Unicamp.
O Almanaque tem 12 capítulos, cada um deles com quatro artigos, originalmente escritos para o jornal mexicano La Jornada (edições de Jalisco e Michoacán), que tratam de temas e personagens protagonistas da ciência. Alguns são tão interessantes quanto óbvios, como Isaac Newton, Charles Darwin, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Albert Einstein e Werner Heisenberg. Mas há outros menos festejados: o matemático inglês Charles Dodgon – que adotou o nome de Lewis Carroll e escreveu o consagrado Alice no país das maravilhas, entre outras obras literárias –, o físico italiano Ettore Majorana, que colegas como Enrico Fermi (Nobel de 1938) consideravam “genial”, o psiquiatra Franco Basaglia e Alberto Santos Dumont.
Juan Nepote trata de outros temas, como mulheres cientistas, museus de ciência, histórias do café, nuvens, bicicletas, bolhas, xadrez e muitos outros, todos imbricados com a ciência. O mais interessante é a busca do autor por relacionar os temas e cientistas a poemas, aforismos e pensatas de escritores e poetas, como Calderón de la Barca, Pablo Neruda, John Donne, Julio Cortázar, José Hierro ou García Márquez, entre muitos. Os artigos ganham então, além da prosa fácil e da ciência descomplicada, a tentativa de harmonizar literatura com ciência. Na maioria dos casos o autor é bem-sucedido.
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