Alguns cientistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS) estão pedindo punição para os colegas que, segundo eles, recebem as bolsas mais desejadas e não se dedicam à pesquisa na China (Nature, 21/01/03). Muitos dos melhores jovens pesquisadores do país migraram ao longo da última década, e as autoridades tentam agora atrair centenas deles de volta, freqüentemente com ofertas bem generosas. Mas esse esforço está gerando tensões na comunidade científica, atualmente em rápida expansão.
De acordo com uma carta enviada por 26 pesquisadores aos diretores da própria CAS aos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação e à Fundação Nacional de Ciências Naturais da China (NNSFC) em 19 de dezembro último, alguns bolsistas recém-atraídos de volta à pátria usam o dinheiro para montar laboratórios na China, mas continuam passando a maior parte do tempo no exterior. O autor da correspondência, Shigang He, do Instituto de Neurociências, afirma que, só na área de ciências da vida, pelo menos 12 pesquisadores deixam as estruturas financiadas por verbas públicas nas mãos de estudantes de graduação ou pesquisadores-assistentes que nem sequer sabem usar os equipamentos à sua disposição.
As bolsas oferecidas por diversas fontes governamentais acabam, muitas vezes, sendo concedidas aos mesmos cientistas, já que um pedido bem-sucedido abre caminho para a obtenção de outros. A carta surtiu algum efeito. Yongbiao Xue, diretor associado do Instituto de Genética e Biologia do Desenvolvimento da CAS, afirmou que os pesquisadores que não cumprirem prazos correrão o risco de perder seus laboratórios. Nem todos, porém, estão convencidos da gravidade do problema. Chen Jia’er, presidente da NNSFC, observa que os bolsistas são submetidos a avaliações rigorosas e têm de apresentar relatórios sobre o andamento de seus projetos. Para Shigang He, o que não falta são meios de verificar se os pesquisadores em questão estão, de fato, estabelecidos na China.
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