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Boas práticas

Preguiça de ler

Estudo sugere que um em cada seis artigos de ciências naturais e biológicas tem equívocos em citações

Um estudo publicado por pesquisadores da Austrália e do Reino Unido indica que um em cada seis artigos (16,6%) nas áreas de ciências naturais e biológicas divulgados entre 2018 e 2020 continha citações incorretas, caracterizando de modo equivocado os resultados de trabalhos usados como referência bibliográfica. Para chegar a esse número, a abordagem dos pesquisadores foi inusitada. Enquanto levantamentos anteriores basearam-se em julgamentos de especialistas não relacionados aos artigos para determinar se as descrições dos papers citados eram precisas, os três responsáveis pelo estudo preferiram ir diretamente à fonte: perguntaram aos autores dos artigos citados se eles reconheciam seus trabalhos no contexto em que foram mencionados. O trio de pesquisadores que realizou o trabalho é da área de ciências da informação: Simon Wakeling, da Universidade Charles Sturt, na Austrália, e Monica Paramita e Stephen Pinfield, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.

Para fazer a análise, primeiro foram coletadas citações de todos os artigos nas áreas de ciências naturais e biológicas publicados por cinco grandes editoras de acesso aberto. Em seguida, eles selecionaram citações que descreviam o contexto do trabalho mencionado de modo inteligível, delimitando uma amostra de quase 128 mil citações. Por fim, a equipe entrou em contato com os autores dos artigos citados, pedindo que avaliassem se consideravam a menção precisa e correta. Dos 2.648 que responderam, 16,6% discordaram da forma como seu trabalho foi citado. O levantamento foi publicado em julho no Journal of the Association for Information Science and Technology (Jasist).

O trio afirma que parte do problema pode estar na chamada “síndrome do autor preguiçoso”, comportamento negligente que leva os responsáveis pela produção de um artigo científico a extraírem informações apenas de resumos ou títulos de papers citados, sem se preocupar em interpretar ou mesmo ler o texto completo. Um dos autores dos artigos originais consultados não entendeu o porquê de seu trabalho ter sido citado em determinado trabalho, já que ele era irrelevante para a afirmação sustentada ali – ele disse suspeitar que a citação se baseou unicamente na leitura do título do paper.

O estudo levanta hipóteses para a dificuldade em combater esse problema. Esperar que os revisores dos artigos encontrem erros de citação “pode ser exigir demais de um sistema já sobrecarregado”, escreveram os autores. Ao mesmo tempo, pesquisadores que encontram referências imprecisas de seus trabalhos não se sentem estimulados a denunciar o equívoco, já que toda citação ajuda a impulsionar métricas de desempenho acadêmico. “Presume-se que uma citação científica seja uma obra de sabedoria, mas muitas vezes não é… e isso é um pouco perturbador”, disse à revista Science Christopher Baethge, psiquiatra e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de Colônia, que não participou do estudo. Segundo ele, distorções em citações podem resultar do desejo de um autor de dar respaldo a uma narrativa preconcebida.

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