daniel buenoA Romênia vive uma sucessão de episódios de má conduta científica que já atinge o coração do governo. De acordo com a revista Nature, que investigou os casos, uma explicação para a atual situação é o fato de que membros da elite romena pós-comunista, incluindo políticos, têm buscado credenciais acadêmicas avidamente e muitas universidades se tornaram uma “fábrica de doutores”, menosprezando a qualidade e a ética da produção acadêmica.
O Conselho de Ética de Pesquisa romeno julga, no momento, o caso de Ioan Mang, ex-ministro da Ciência e Educação. No mês passado, Mang, especialista em computação, renunciou ao cargo após denúncia de plágio em pelo menos oito artigos. O evento mais ruidoso até agora envolve o primeiro-ministro Victor Ponta, julgado sob a acusação de ter copiado grandes trechos de outros trabalhos acadêmicos, sem citar as fontes, em sua tese de doutorado, defendida em 2003 na área de direito. Se confirmadas, as acusações podem aumentar a pressão para sua renúncia.
A Nature publicou uma reportagem sobre esse episódio em 18 de junho, após ter tido acesso a documentos indicando que mais da metade da tese de Ponta, de 432 páginas, consistia de textos acadêmicos já publicados, mas não identificados. A tese foi republicada como livro em 2004 e usada como base para outro livro, de 2010, sobre leis humanitárias internacionais. Trechos substanciais das três publicações parecem ser bastante similares aos de artigos publicados em romeno pelos especialistas em direito Dumitru Diaconu e Vasile Creţu e em inglês por Ion Diaconu. “As evidências de plágio são avassaladoras”, disse à revista Marius Andruh, químico da Universidade de Bucareste e presidente do conselho romeno para reconhecimento de diplomas universitários.
No dia 21 de junho, a Nature publicou uma carta da assessoria de imprensa do governo romeno negando as acusações de plágio. Nele, Victor Ponta se oferece para submeter seu trabalho a “qualquer tipo de teste”. Segundo o diário britânico The Guardian (19 de junho), o primeiro-ministro acusou o presidente romeno, Traian Basescu, um rival político, de orquestrar o ataque a ele.
Ponta fez seu doutorado na Universidade de Bucareste enquanto era secretário de Estado do governo do primeiro-ministro Adrian Nastase, que foi também seu orientador. Ele se tornou o primeiro-ministro em maio deste ano depois de seu antecessor, Emil Boc, ter renunciado.
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