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Infra-estrutura

Reformas no Instituto de Química

O Instituto de Química da USP, com seus 12 blocos, que somam 24 mil metros quadrados de área construída (além do conjunto de anfiteatros e prédio do almoxarifado e biotério), está finalmente em obras -para alívio dos cerca de 120 pesquisadores doutores da instituição e, especialmente, de seu diretor, professor Walter Colli. Nos últimos 10 anos, mesmo sob risco de parecer desagradável, ele vinha reclamando incessantemente dos desgastes sofridos pela infra-estrutura de pesquisa da universidade, sem que nada pudesse ser feito para barrá-los.

“Em construções que datam de 30 anos, estávamos a braços com problemas de infra-estrutura gravissimos, que afetavam, não um ou outro projeto, mas a pesquisa globalmente”, diz. Agora eles estão sendo resolvidos, graças aos poucos mais de R$ 2 milhões concedidos ao Instituto de Química pela FAPESP, no âmbito de seu Programa de Recuperação e Modernização da Infra-Estrutura de Pesquisa do Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia.

Esses problemas eram tão antigos, segundo o professor Colli, que, já em 1986, ele havia encaminhado aos administradores do Programa BID/USP uma solicitação de recursos para o, que então chamou “Projeto Luz”e “Projeto Água” do Instituto de Química. O programa se constituíra naquele ano, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e mais uma contraparte do governo do Estado de São Paulo, justamente para apoiar a melhoria da infra-estrutura da Universidade. “Mas eles me informaram que não davam dinheiro para reformas de prédio”, diz. Assim, foi preciso esperar outra solução por quase 10 anos.

Peça insólita
Os projetos encaminhados ao programa BID/USP chamavam-se” Água” e “Luz”, porque era justamente nesses itens básicos de infra-estrutura que se concentravam os mais graves problemas do Instituto de Química  cuja construção foi iniciada em 1962 e quatro anos depois, em 1966, estava em pleno funcionamento. “Imagine num Instituto que desenvolve pesquisas de química fina, de engenharia genética  que trabalha com células  com bactérias  etc, etc,o pesquisador abrir as torneiras nos laboratórios e ver. sair uma água completamente marrom”, comenta o professor Colli. E face a algum olhar cético  ele está pronto para reagir: “Não estou exagerando, ê rigorosamente verdade”.

Aliás, para evitar dúvidas do gênero, ao encaminhar à FAPESP a solicitação que viria a ser aprovada pelo Programa de Infra-Estrutura, ele juntou à documentação necessária um pedaço de cano, cuja parede interna estava recoberta por uma grossa ca- mada de sujeira. E isso não era uma tirada de humor. “Serrei o cano com aquela borra e mandei para a FAPESP, para que os assessores que fossem julgar nossa solicitação vissem e sentissem a que ponto as coisas tinham chegado”, diz.

A situação da rede de água ia sendo contornada com a colocação de purificadores em laboratórios, que, sem resolver efetivamente o problema, representavam um insuportável custo adicional para o Instituto. “No meu laboratório, por exemplo, de Bioquímica de Parasitas, tive que instalar no teto um grande destilador de metal. A água saía daí e tinha que passar por outro esterilizador de vidro, depois por cartuchos de uma resina que retira íons, quer dizer, metais. E antes de todo esse percurso, ela já passara por um filtro industrial enorme. Mas que fazer, quando muitas vezes o trabalho exige que o grau de impureza da água não exceda de 10.12, ou seja, não passe de um trilionésimo de grama para cada grama de água?”, pergunta) professor Colli.

O problema ê que o Instituto de Química tem cerca de 70 laboratórios de pesquisa e fazer o mesmo em cada um deles seria impossível. “Mas felizmente já começaram as obras de reforma das instalações hidráulicas”. Elas envolvem substituição de dutos, novos revestimentos e pisos internos, colocação de 650 registros e válvulas, colocação de quase 4 mil metros de novos tubos de PVC, implantação da rede de incêndio e uma série de providências, cujo custo chega a R$258 mil. Como diz o professor Colli, “são obras que político não gosta, porque ninguém vê depois de concluídas, mas fundamentais para o funcionamento dos laboratórios”.

Cupins e traças
A parte de instalações elétricas era um dos grandes problemas do Instituto de Química. “Era uma tragédia”, resume o professor Walter Colli com seu tom veemente. A sobrecarga na demanda resultava em frequentes quedas e interrupções no fornecimento de energia, com a consequente paralisação de máquinas e equipamentos nos laboratórios, aparelhos de ar condicionado, sistema de informática e, portanto, perdas significativas no processo de trabalho das pesquisas.

Esse quadro se agravara sensivelmente desde que foram retiradas todas as persianas solares que protegiam os prédios do Instituto, provocando seu aquecimento e exigindo a instalação de um número maior de aparelhos de ar condicionado, “não para conforto dos pesquisadores, mas para proteção dos equipamentos e materiais de pesquisa”. As persianas foram retiradas por volta de 1978, quando uma delas caiu e quase matou um diretor do Instituto.

Nesse item  já foi totalmente executada, nos 12 blocos, a reforma dos cabos alimentadores, obra que demandou quase R$360 mil. E está em andamento, com mais de 500/0 dos serviços já realizados, a reforma interna de prédios para colocação de quadros distribuidores e rede independente para ar condicionado e destiladores, cujo custo final ficará em R$405 mil. Essa reforma interna permitirá o atendimento de 22 unidades de ar condicionado e 52 unidades de destilação de água, além de garantir que todos os laboratórios trabalhem sem problemas.

Os cupins que assolaram grande parte dos 2 mil metros quadrados de bancadas de madeira dos laboratórios compunham um terceiro ato no drama da deterioração física do Instituto. “Houve mesmo caso de uma bancada ruir durante a realização de uma reação química”, relata o professor Colli. Os recursos do Programa de Infra-estrutura vão permitir a substituição de 500 metros quadrados de bancadas, com a recuperação de suas instalações elétricas e hidráulicas. Essa obra está sendo iniciada e seu custo ficará em R$473 mil.

“Com isso, estaremos muito perto de resolver totalmente o problema das bancadas dos laboratórios de pesquisa, porque com nossos próprios recursos, tínhamos conseguido recuperar 700 metros quadrados, que vão se somar aos 500 metros. Se forem atendidas nossas solicitações encaminhadas à FAPESP para a segunda fase do Programa de Infra-Estrutura, poderemos recuperar mais 200 metros quadrados. O que resta é dos laboratórios de ensino e teremos que recuperá-las com recursos próprios”, explica o professor Colli.

Completam o ímpeto de renovação que envolve o Instituto de Química as obras de proteção contra descargas atmosféricas para toda a área construída, já concluídas (custo de cerca de R$90 mil); o reequipamento das oficinas mecânica, eletrônica e de marcenaria, já executado em grande parte, estando os equipamentos de Eletrônica em processo de importação (investimento de R$140 mil) e a restauração e encadernação dos 315 volumes da coleção do Chemical Abstracts (custo de pouco mais de R$12 mil).

“Creio que essa é a única coleção completa do Chemical Abstracts que temos em São Paulo. Trata-se de um resumo de todos os trabalhos de Química publicados no mundo desde 1907 e além de sua óbvia importância para os pesquisadores, ela é uma fonte de consulta muito usada pela indústria, em função dos dados sobre patentes”, diz o diretor do Instituto. A coleção estava em péssimo estado, tanto em razão do ataque das traças quanto em decorrência da intensa manipulação dos volumes ao longo do tempo.

Em meados de março, computados os custos de todas as obras feitas ou em execução, o instituto de Química, segundo o professor Colli, ainda tinha um saldo de pouco mais de R$316 mil dos recursos concedidos pela FAPESP, que será utilizado na construção de laboratórios para novos contratados e outras necessidades de infra-estrutura.

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