Dois pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, analisaram quase 3 mil artigos da área de ciências biológicas publicados em 2023 que apresentavam pelo menos um gráfico de barras – e concluíram que 28% desses gráficos continham algum tipo de distorção. Foram analisados papers de 15 periódicos, entre os quais títulos de prestígio, como Nature, Science e Cell. A maioria dos problemas estava relacionada a não iniciar em zero o eixo vertical dos gráficos – o que faz com que disparidades pareçam maiores – ou então erros com eixos logarítmicos. Quanto maior o número de autores de um artigo, mais propenso ele é a incluir distorções nos gráficos de barra, segundo o estudo. A análise, divulgada no repositório bioRxiv e ainda não revisada por outros pesquisadores, destaca a necessidade de treinar melhor os cientistas para usar e interpretar dados e propõe a adoção de um checklist por autores, editores e revisores a fim de verificar os gráficos e corrigir esse tipo de distorção antes da publicação.
Um porta-voz da revista Nature justificou o uso de gráficos que não partem do zero no eixo vertical: “Garantir a apresentação ideal de dados para auxiliar a interpretação e a compreensão pode, às vezes, justificar inícios diferentes de zero para eixos y”, informou o representante da revista.
Markita Landry, especialista em nanotecnologia que coordenou a análise, justificou sua preocupação com a fidedignidade dos gráficos, mesmo em casos em que eventuais distorções buscam facilitar a compreensão dos dados. “Como pesquisadores, não somos apenas responsáveis por tornar nosso trabalho preciso para os colegas, mas também temos que ser cautelosos com o uso do nosso trabalho pelo público em geral, perguntando, será que ele pode ser mal interpretado?”, disse Landry à Nature. “O encargo de evitar a má interpretação não é do público, mas de quem faz os gráficos.”
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