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BOAS PRÁTICAS

Reveses na Justiça

Após perder processo por difamação, oncologista deu calote em advogados e terá de indenizá-los

O oncologista ítalo-americano Carlo Croce, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio (OSU), nos Estados Unidos, foi condenado a pagar US$ 1,1 milhão ao escritório de advocacia Kegler Brown Hill + Ritter, em mais um revés na Justiça de sua estratégia para se defender de acusações de má conduta científica.

O escritório representou o oncologista em um processo por difamação, invasão de privacidade e danos morais contra o jornal The New York Times. Em 2017, o diário publicou uma reportagem sobre acusações de plágio, manipulação e falsificação de dados envolvendo 20 artigos do grupo de pesquisa de Croce, com base em evidências reunidas pelo virologista David Sanders, da Universidade Purdue, e encaminhadas anteriormente a revistas científicas.

No ano seguinte, a ação foi indeferida por uma corte distrital. Ela aceitou a justificativa da defesa, segundo a qual o texto do jornal alertou, preliminarmente, que a questão tinha dois lados, porque resulta de uma controvérsia, e apresentou de forma precisa e equilibrada as acusações e os contra-argumentos do pesquisador. “O artigo e as declarações nele contidas não são difamatórios porque, quando vistos no contexto, representam um relatório preciso e equilibrado das alegações feitas por outras pessoas contra o Dr. Croce”, informou a sentença. David Sanders também foi processado por difamação, mas Croce igualmente perdeu a ação em 2020.

Após essas derrotas, o oncologista não pagou US$ 920 mil em honorários combinados com o escritório, que o processou pelo calote. Um juiz deu ganho de causa aos advogados e decidiu ainda que eles tinham direito a juros acumulados, totalizando US$ 175 mil adicionais. Croce recorreu da sentença, mas não teve sucesso. Ele está sendo processado por outro escritório de advocacia, também devido a honorários não pagos.

O laboratório liderado por Carlo Croce na OSU já teve 14 artigos retratados em revistas como Nature Medicine e Cancer Cell. Em nenhum dos casos de má conduta, porém, ele foi responsabilizado diretamente – os desvios foram atribuídos a outros membros do grupo, como as cientistas Michela Garofalo e Flavia Pichiorri. Segundo investigações da OSU cujos resultados foram publicados pela revista Nature, Garofalo plagiou textos de várias fontes e falsificou imagens em oito artigos – sete deles também assinados por Croce. Já Pichiorri fabricou e falsificou dados em três papers, um deles publicado quando ela fazia seu estágio de pós-doutorado no laboratório do oncologista. Embora não tenham encontrado evidências contra Croce, as investigações criticaram o modo como ele administrava seu grupo de pesquisa e atribuíram comportamentos inadequados à má orientação e falta de supervisão. O pesquisador argumentou que sua equipe participava de treinamentos sobre plágio e ética.

Ele mantém o vínculo com a OSU, mas foi afastado das funções de chefe do Departamento de Biologia e Genética do Câncer em 2019. Tentou reaver o cargo na Justiça, mas também foi malsucedido. Argumentou que não havia razões para sua destituição, mas a universidade divulgou uma carta enumerando falhas atribuídas a ele, como descumprimento de responsabilidades na governança do departamento, capacidade deficiente de administrar finanças e falta de orientação adequada a outros membros do corpo docente.

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