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Boas práticas

Revista anuncia retratação de artigo após se dar conta de que foi financiado por indústria do tabaco

Em abril de 2021, a revista da área médica BMJ Open publicou um trabalho científico que apresentava o protocolo de um estudo multicêntrico com conclusão prevista para 2024. Trata-se de um ensaio clínico para avaliar os efeitos da substituição do consumo de cigarros tradicionais por cigarros eletrônicos em um grupo de 576 fumantes com diabetes tipo 2 – a hipótese a ser avaliada é de que o uso desses equipamentos que fornecem nicotina, mas não são baseados na combustão do tabaco, reduziria a exposição a compostos tóxicos e diminuiria os riscos cardiovasculares nos pacientes.

No final do mês passado, o trabalho foi retratado pela revista por violar suas políticas de publicação. No período em que o protocolo era avaliado pelos revisores do periódico, os autores, de instituições da Polônia, da Itália, do Reino Unido, do Paquistão e da Moldávia, acrescentaram uma informação ao documento: declararam que o ensaio, patrocinado pela empresa Eclat SLR, sediada na cidade de Catânia, na Sicília, também receberia apoio financeiro da Fundação para um Mundo Livre do Fumo (FSFW). A organização sem fins lucrativos, criada em 2017 no estado norte-americano de Delaware, é dedicada a pesquisas sobre redução de riscos para dependentes do tabaco e mantém programas para diversificar a agricultura no Malawi, um dos países mais pobres da África e grande produtor de tabaco. O artigo foi aceito para publicação sem que revisores e editores da revista se dessem conta de que, por trás da FSFW, está a multinacional do tabaco Philip Morris Internacional, que investe US$ 80 milhões por ano na organização.

A BMJ Open tem como norma não publicar trabalhos financiados pela indústria do tabaco. “O acréscimo dessa informação e seu significado não foram trazidos à atenção dos editores de modo específico. Se isso tivesse acontecido, o artigo não teria sido publicado”, informou a nota de retratação.

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