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Boas práticas

Rigor e sobrecarga na investigação de violações éticas

Equipe da coleção de revistas PLOS justifica atraso na apuração de problemas em artigos publicados

A bióloga molecular Renee Hoch, chefe da equipe de ética em publicações da editora de revistas científicas PLOS, escreveu um post no blog oficial da organização para explicar por que, às vezes, é demorada a investigação de erros e fraudes em artigos de seus sete periódicos de acesso aberto. Em média, transcorrem-se entre quatro e oito meses do recebimento de uma reclamação à resolução do caso, mas há exemplos em que a conclusão veio bem mais tarde do que isso.

Hoch contou que cada ocorrência, mesmo tratando de problemas aparentemente simples, segue seu próprio caminho e mobiliza vários colaboradores. “É um trabalho muito exigente. Envolve investigação, avaliação científica rigorosa e correspondência sensível com autores, instituições e leitores em todo o mundo. Isso requer resiliência, tenacidade e tempo”, afirmou.

Ela apresentou uma tabela que ilustra todas as fases de uma investigação e o tempo que cada uma delas é capaz de consumir. A primeira etapa, que leva no mínimo duas semanas, mas pode se estender por meses, abrange a discussão do caso por sua equipe e pelos editores do periódico. Em seguida, o autor do artigo é contatado para se pronunciar sobre as suspeitas e fornecer dados suplementares se for o caso – isso leva de três semanas a três meses. Depois, pode ser necessário consultar especialistas para cotejar as evidências e as justificativas dos autores, o que demora de uma semana a vários meses a depender do número de experts convocados e da complexidade do caso.

A quarta etapa, a partir de uma análise robusta, consiste em comunicar o caso às instituições a que os autores são vinculados a fim de que possam realizar suas próprias investigações – isso dura no mínimo um mês, mas já houve episódios que se alongaram por vários anos. Independentemente de haver uma resposta institucional, o corpo editorial se reúne para tomar uma decisão e divulgá-la publicamente. Os autores são notificados e têm a oportunidade de se pronunciar, processo que consome de duas a quatro semanas. Por fim, os autores podem apelar e a análise de seus argumentos ocorre no mínimo em três semanas, podendo chegar a seis meses.

Um dos fatores que determinam uma demora maior, explica a bióloga, é a gravidade dos casos: os mais leves podem levar mais tempo, por não serem considerados prioritários. Entre 2018 e 2021, a equipe de Hoch examinou mais de 800 casos. Desses, 380 resultaram em retratações dos artigos, o equivalente a 0,13% de cerca de 300 mil papers publicados nos periódicos PLOS. Outras 1,1 mil queixas foram apresentadas nesse período e agora estão sob avaliação.

Ela conta que houve um salto no número de casos entre 2014 e 2016, em razão da denúncia simultânea de problemas com imagens em dezenas de artigos. “Os profissionais dedicados a responder a essas questões ficaram rapidamente sobrecarregados. Os editores da revista trabalharam incansavelmente, mas cada um só conseguia lidar com alguns casos de cada vez enquanto fazia malabarismos com suas outras tarefas.” Assim, as investigações foram se acumulando. “Naquela época, não sabíamos se aquela era uma coleção única de casos ou se continuaríamos recebendo queixas nesse ritmo inesperadamente alto. Redirecionamos recursos internos para ajudar sempre que possível, mas, essencialmente, as revistas ainda não estavam estruturadas para responder a questões de ética de publicação nessa escala. Precisávamos de mais recursos”, explica. Em 2021, foi formada uma equipe para trabalhar em casos pendentes. As tarefas que se concentravam em uma pessoa passaram a ser realizadas por um time de cinco editores sêniores.

Atualmente, os editores da PLOS discutem a possibilidade de emitir algum tipo de alerta provisório sobre artigos questionados, mas ainda há resistência a essa ideia, uma vez que, na maioria dos casos, as suspeitas não se confirmam ou não envolvem má fé, resolvendo-se com simples correções. Hoch rejeita a sugestão feita por leitores de retirar papers problemáticos do ar enquanto a investigação está em curso. “O padrão da nossa indústria é preservar a integridade e estabilidade dos registros publicados e remover conteúdo apenas em circunstâncias raras”, afirma.

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