Foi retratado um artigo científico que causou empolgação no início da pandemia ao sugerir a eficácia da hidroxicloroquina, remédio usado contra a malária, para tratar a Covid-19. O trabalho, publicado em março de 2020 no International Journal of Antimicrobial Agents, sustentava que a hidroxicloroquina reduzia a carga do vírus Sars-CoV-2 em pacientes com a doença e seria ainda mais eficaz se aplicada em conjunto com o antibiótico azitromicina. O autor principal era Didier Raoult, à época chefe do Instituto de Infectologia do Hospital Universitário de Marselha (IHU), no sul da França. Os resultados foram alvo de críticas e de desconfiança, por envolverem dados de apenas 36 pacientes. Estudos com amostras maiores feitos em seguida refutaram a eficácia da droga.
Segundo a nota de retratação, não foi possível comprovar que os participantes deram aprovação ética para o estudo e houve problemas na forma como os grupos de pacientes de controle e de tratamento foram selecionados, tornando questionáveis os resultados. A controvérsia sobre o artigo chamou a atenção para outros problemas na produção científica de Raoul, levando a uma onda de retratações de artigos de seu grupo – o estudo da hidroxicloroquina é o 28º do médico a ser cancelado. Em 2022, a Agência Francesa de Segurança de Medicamentos e Produtos de Saúde concluiu que Raoult violou normas em um estudo sobre doenças associadas a viagens e patógenos multirresistentes no qual alunos do próprio IHU tinham de coletar amostras da vagina e do ânus antes e após a permanência fora da França. Em outubro, o francês teve seu registro médico cassado.
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