O Prêmio Internacional Raymond e Beverly Sackler em Biofísica mudou de nome: agora se chama Prêmio Internacional de Biofísica da Universidade de Tel Aviv. A prestigiada premiação da universidade israelense foi renomeada para deixar de homenagear a família Sackler, que tem um histórico ligado à epidemia de opioides nos Estados Unidos.
Os laureados de 2024 foram os biofísicos Petra Schwille, do Instituto Max Planck de Bioquímica, na Alemanha, Leonid Mirny, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e Cornelis Dekker, da Universidade de Tecnologia de Delft, nos Países Baixos, que vão dividir um prêmio de US$ 50 mil. Eles declararam à revista Science que estavam desconfortáveis com a ligação ao nome da família Sackler e apoiavam a mudança. A cerimônia de premiação deve ocorrer em maio.
Em um comunicado, a Universidade de Tel Aviv e a família Sackler informaram que “decidiram mutuamente remover o nome Sackler dos prêmios da universidade”. Em junho de 2023, a escola médica da universidade, que há cinco décadas se chamava Faculdade Sackler de Medicina, também deixou de ostentar o sobrenome polêmico. Na época, a universidade explicou que a medida buscava abrir espaço para homenagear novos doadores. Antes da instituição israelense, as universidades Tufts, nos Estados Unidos, de Oxford, no Reino Unido, e de Leiden, nos Países Baixos, removeram o sobrenome Sackler de bibliotecas, programas e galerias.
Na década de 1990, a Purdue Pharma, empresa farmacêutica da família, adotou estratégias de marketing agressivas para estimular a comercialização do analgésico opioide OxyContin, escondendo seu grande potencial viciante e o risco de morte por overdose. O remédio é um narcótico poderoso e de ação prolongada que proporciona alívio de dores intensas por até 12 horas. Conforme ressaltou a Science, “a empresa minimizou os perigos desses medicamentos e, supostamente, encorajou médicos a prescrevê-los em excesso”, não apenas para pessoas que sofrem com dores excruciantes, como pacientes com câncer, mas também para casos mais leves, para os quais havia tratamentos mais seguros. A Purdue Pharma sustentava que o remédio, por conta de sua liberação mais lenta, representava uma ameaça menor de abuso e dependência do que analgésicos como Percocet ou Vicodin. Entre 1995 e 2001, as vendas do OxyContin renderam US$ 2,8 bilhões à empresa.
Mais de 260 mil pessoas morreram nos Estados Unidos entre 1999 e 2020 por overdose de opioides prescritos de forma legal como o OxyContin, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país, no que se convencionou chamar de “epidemia dos opioides”. Em 2007, a Purdue e três de seus executivos se declararam culpados em um tribunal federal de terem enganado médicos, pacientes e órgãos reguladores sobre o risco de dependência do medicamento e seu potencial de abuso. A empresa aceitou pagar US$ 600 milhões em multas e seus executivos US$ 34,5 milhões. Em 2020, a empresa entrou com um pedido de falência e propôs um acordo por meio do qual a família Sackler pagaria US$ 3 bilhões para encerrar mais de 2,6 mil ações judiciais.
Republicar