Indispensáveis à agricultura de larga escala, os agroquímicos podem representar sérios riscos à saúde humana e ao ambiente se não aplicados corretamente. Esses produtos costumam ser pulverizados manualmente sobre as lavouras ou com o auxílio de tratores. Mesmo quando usam equipamentos de proteção, como luvas, máscaras e óculos, os trabalhadores podem se contaminar. Com o propósito de orientá-los sobre o manejo adequado dos defensivos químicos, o Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico (CEA-IAC), em Jundiaí, São Paulo, investe em diversas estratégias de capacitação profissional. A principal é o programa Aplique Bem. Lançado em maio de 2007, em parceria com a empresa Arysta Life Sciences, a iniciativa prevê a avaliação de pulverizadores e do processo de pulverização, oferecendo treinamento para a aplicação de agroquímicos, de modo a prevenir contaminações, reduzir o desperdício e mitigar impactos no ambiente.
O Brasil é o maior consumidor mundial de agroquímicos. Em média, cerca de 130 mil toneladas de defensivos são aplicadas por ano nas lavouras do país, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O uso inadequado dessas substâncias pelos produtores rurais é um dos principais problemas impostos hoje à agricultura brasileira, segundo o agrônomo Hamilton Humberto Ramos, pesquisador do CEA e coordenador do Aplique Bem. “Muitos têm baixa escolaridade e não sabem usar os pulverizadores ou mesmo ler o rótulo dos produtos com as instruções”, explica. “Vários aplicam a substância em doses acima do recomendado e de maneira inadequada para as pragas que pretendem controlar.” O uso incorreto dos agroquímicos também pode gerar perdas econômicas da ordem de R$ 2 bilhões por ano, além de representar um entrave à sustentabilidade da agricultura.
No Aplique Bem, técnicos e pesquisadores visitam propriedades rurais em diferentes regiões do país e ensinam a maneira correta de aplicar esses produtos. Nessas visitas, eles também avaliam e calibram os pulverizadores usados pelos trabalhadores. “O treinamento para a aplicação de defensivos químicos é feito com base nas culturas com as quais os produtores trabalham, os equipamentos que manejam e as substâncias que estão acostumados a aplicar”, diz Ramos. Ao redor de 6 mil trabalhadores são treinados por ano. Desde que foi lançado, o Aplique Bem já capacitou 55 mil produtores em 22 estados. Durante esse período, aproximadamente 900 pulverizadores foram avaliados
Isso permitiu a construção de um banco de dados sobre a qualidade das máquinas em uso no Brasil. Os interessados podem solicitar as informações ao IAC e à Arysta, que as fornece na forma de relatórios e gráficos. Os dados podem ser analisados por tipo de pulverizador, marca, região em que foi usado, desgaste de componentes etc. “Essa análise lança luz sobre os principais problemas envolvendo esses equipamentos e auxilia as empresas fabricantes na correção de possíveis falhas”, destaca o agrônomo.
O sucesso do Aplique Bem segue na esteira de outros projetos, como o Programa de Qualidade em Equipamentos de Proteção Individual (Quepia). Criado em 2006 em parceria com empresas produtoras de equipamentos de proteção individual (EPI), o programa visa aprimorar a qualidade das vestimentas agrícolas usadas pelos profissionais do campo para aplicar agroquímicos. O trabalho desenvolvido no âmbito do Quepia fez com que o IAC se tornasse um dos coordenadores do Consórcio Internacional para Desenvolvimento e Avaliação de EPI para Aplicadores de Agrotóxicos e Trabalhadores em Período de Reentrada.
Em outra frente, o CEA criou a Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agrotóxicos. A ideia é promover o treinamento de agentes multiplicadores para que estendam o conhecimento adquirido no programa às suas comunidades. “Pretendemos difundir o conhecimento sobre o controle eficaz de pragas e doenças nas lavouras e incentivar a adoção de boas práticas de manejo de agrotóxicos”, explica Ramos.
Outro projeto importante é o Programa de Adjuvantes da Pulverização. Lançado há doze anos, o projeto se propõe a desenvolver métodos de avaliação de adjuvantes agrícolas, substâncias acrescidas na preparação dos defensivos para aumentar sua eficácia. A proposta é classificar esses produtos de acordo com sua funcionalidade, isto é, se ajudam a reduzir a evaporação do agroquímico ou se favorecem uma melhor fixação da substância às plantas.
Acervo CEA-IAC Mecanização agrícola
Com uma economia dinâmica, impulsionada pela cafeicultura, o governo do estado decidiu, em 1938, pela criação de uma divisão que promovesse a mecanização agrícola, a conservação do solo e que orientasse as obras de engenharia rural em São Paulo. “Criou-se, assim, a Seção de Mecânica Agrícola, Irrigação e Drenagem, ligada à Divisão de Solos, Mecânica Agrícola e Tecnologia”, conta o agrônomo Moises Storino, diretor do CEA. A seção teve vários nomes e, em 2002, passou a se chamar Centro de Engenharia e Automação.
O CEA hoje estende-se por 110 hectares e conta com laboratórios e áreas dedicadas à realização de ensaios de tratores agrícolas, semeadoras e adubadoras, testes de protótipos, EPIs e produtos fitossanitários. Dentre as ações do CEA com impacto direto na agricultura, destacam-se o estudo da colheita seletiva da videira em pequenas propriedades, um novo sistema de cortador de base, com lâminas serrilhadas e inclinadas para a colheita mecanizada de cana-de-açúcar, e um projeto de monitoramento da bacia do Rio Jundiaí-Mirim, em parceria com a prefeitura de Jundiaí e o Departamento de Água e Esgoto da cidade. Também estão sendo feitos estudos sobre biocombustíveis e tecnologia de produção, agricultura de precisão e de gestão agroambiental.
Apesar de sua importância, o CEA sofre com a evasão de pesquisadores e a falta de reposição de mão de obra qualificada. Mais recentemente o centro passou a lidar com a possibilidade de ser transferido para Campinas.
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