Jean-Philippe Boubli embrenha-se na Amazônia desde 1991 em busca dos discretos uacaris-pretos (Cacajao melanocephalus). Desde o início, quando morava na floresta, o antropólogo brasileiro sempre teve de contar com a ajuda de índios locais para encontrar grupos desse macaco no alto das árvores – ou, para seu desgosto, ver seu objeto de pesquisa virar almoço da tribo. Essa colaboração acaba de mostrar como ainda há muito a descobrir sobre a Floresta Amazônica. Os índios sempre conheceram mais de um tipo de uacari-preto, mas para primatólogos a novidade será apresentada no International Journal of Primatology. Agora professor na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, Boubli e alguns colegas acabam de descrever um novo uacari-preto: Cacajao ayresi, que vive às margens do rio Aracá, um afluente do rio Negro. O nome homenageia o primatólogo José Márcio Ayres, pioneiro no estudo dos uacaris e criador das reservas de Mamirauá e Amanã, no Amazonas. Boubli espera que a descoberta inspire a criação de uma reserva que proteja a nova espécie primata com a participação dos ribeirinhos. No artigo em que descreve o C. ayresi, o pesquisador também defende que o que se acreditava ser uma subespécie de C. melanocephalus do Pico da Neblina é, na verdade, uma terceira espécie, agora batizada com o nome que os ianomâmis dão para esses macacos: C. hosomi.
Republicar