Julho foi o mês mais quente já registrado pelas principais agências meteorológicas que monitoram o ambiente há décadas. Identificada há anos, a tendência de aumento da temperatura média global culminou no atual recorde, que não demorará a ser quebrado.
A elevação da temperatura média do planeta, mesmo na casa decimal, afeta a quantidade de episódios de seca, chuvas fortes, além da frequência e intensidade de ondas de calor. O impacto não é linear, e alguns fenômenos são mais fáceis de prever – ondas de calor, por exemplo – do que outros, como oscilações de chuvas.
A ciência aperfeiçoa os modelos, simulando o futuro e verificando a precisão das estimativas, comparando-as com eventos passados. O papel das mudanças climáticas no processo de aquecimento global é cientificamente inconteste; o que falta é a ação de governos, setor privado e sociedade civil para impedir que a vida na Terra, como a conhecemos, torne-se insustentável. A reportagem de capa desta edição traz dados atuais sobre a elevação da temperatura no planeta, destacando impactos na saúde e os riscos das chamadas ilhas de calor.
O papel das ações humanas no desequilíbrio do ecossistema terrestre também é tema de reportagem à página 52. A espécie humana afeta diretamente 14 mil espécies de vertebrados, segundo estudo internacional, o que equivale a quase um terço das espécies avaliadas no trabalho. No mesmo ambiente da África no qual leões caçam 40 espécies vertebradas, o predador humano afeta 3,2 mil.
A importância dos povos originários na preservação da natureza é bem documentada. Um exemplo recente de pesquisa demonstrando esse serviço ambiental foi publicado no site de Pesquisa FAPESP em julho. Levantamento detalhado feito pelo IBGE, no Censo de 2022, mostra que a porcentagem da população indígena quase dobrou em relação a 2010, passando de 0,43% para 0,83%. Vários fatores podem explicar o crescimento, além do aumento demográfico resultante de mais nascimentos do que mortes, como mudanças metodológicas importantes no recenseamento e a valorização da identidade indígena, que incentiva a autodeclaração.
Embora tenha sido aperfeiçoada na última edição, a atenção aos povos originários já estava presente em censos anteriores. Totalmente inéditos são os dados sobre as populações quilombolas no Brasil, que nunca haviam sido objeto de levantamento pelo IBGE. Impressionantes, os números dão visibilidade a comunidades que não a tinham: os quilombolas somam 1,3 milhão de pessoas, ou 0,65% dos brasileiros. Quase 70% se concentram na região Nordeste, com a primazia da Bahia (30% do total). O quilombo Pitanga dos Palmares, na Região Metropolitana de Salvador, esteve no noticiário recente devido ao assassinato da liderança Bernadete Pacífico.
Tesouro da documentação de história recente do país, o CPDOC, da Fundação Getulio Vargas, completa 50 anos. Criado inicialmente para armazenar os arquivos do ex-presidente que dá nome à instituição, o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil preserva a memória da política nacional desde 1930. Hoje digital, o Dicionário histórico-biográfico brasileiro, lançado em 1984 e atualizado em novas edições, trouxe verbetes de referência para historiadores, jornalistas e interessados pelo tema. É fácil se perder por lá – mas não é tempo perdido.
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