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Carta do editor | 50

Um fato científico de peso internacional

A ciência brasileira já pode festejar sua competência em genômica

A matéria de capa desta edição de Pesquisa FAPESP trata de um fato científico de importância internacional: pesquisadores brasileiros concluíram o seqüenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosaAcrescente-se a essa informação que, além de ser o primeiro genoma de um patógeno vegetal seqüenciado no mundo, este é também o primeiro genoma seqüenciado fora do eixo Estados Unidos-Europa-Japão, realização cujo mérito deve ser creditado à ONSA, um instituto virtual formado por uma rede de 35 laboratórios conectados via Internet. Observe-se também que o projeto propiciou um salto da competência científica nacional em Genética Molecular. E relembre-se aqui que a X. fastidiosa é responsável pela praga do amarelinho ou clorose variegada dos citros (CVC), um problema que vem afetando um terço das plantas nos laranjais paulistas, com pesadas conseqüências econômicas para a poderosa citricultura do Estado. Por isso, a conclusão do seqüenciamento da bactéria permite prever um caminho de controle efetivo da praga, através das pesquisas do genoma funcional da X. fastidiosa num prazo de aproximadamente cinco anos.

Esses dados mostram que a conclusão do seqüenciamento da Xylella é um feito significativo o suficiente para que a FAPESP concentre-se agora mais nos substantivos que a informação sobre o projeto exige e deixe a terceiros o espaço para os adjetivos próprios das apreciações, comentários e juízos de valor. De Bob Waterston, por exemplo, a conclusão do seqüenciamento mereceu o curto e incisivo comentário de que “a iniciativa paulista em genômica é espetacular”. Waterston dirige na Universidade de Washington, em Saint Louis, Missouri, o quinto maior centro de seqüenciamento genético do mundo. E sobre ele está depositada boa parte da esperança dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) – fustigados pela agilidade do projeto privado norte-americano de seqüenciamento do genoma humano, liderado por Craig Venter – de apresentar, ainda este ano, um esboço da seqüência genética humana.

Outros especialistas em genômica, reunidos em San Diego, Califórnia, em janeiro, no I Encontro de Genomas Microbianos Relevantes para a Agricultura, saudaram com entusiasmo e “uma ponta de inveja” a notícia da iminente conclusão do seqüenciamento da X. fastidiosa . Explicação de Noel Keen, fitopatologista da Universidade da Califórnia, para tal inveja: “Os primeiros projetos de seqüenciamento de bactérias fitopatogênicas nos Estados Unidos estão apenas começando”. O doutor Peter Johnson, responsável por um dos maiores programas de financiamento de pesquisa do Departamento de Agricultura dos EUA, preferiu outra abordagem: classificou a determinação do genoma da Xylella como “um marco que merece ser celebrado por toda a agricultura”.

A partir do anúncio formal da conclusão do primeiro projeto do Programa Genoma da FAPESP, no dia 21 de fevereiro – portanto, quase quatro meses antes do prazo originalmente previsto -, outras avaliações sobre seu significado para a ciência brasileira certamente serão feitas. Esta Fundação aguarda-as com a serenidade de quem sabe que induziu um trabalho científico de largo alcance.

Esta edição de Pesquisa FAPESP , contudo, não é monotemática. Assim, chamamos a atenção para um outro tema importante aqui tratado: a questão da propriedade intelectual e das patentes que devem resultar da atividade de pesquisa. Ela é objeto de uma matéria que mostra as atuais preocupações e as propostas desta Fundação numa área vital para o desenvolvimento científico e tecnológico nacional e para o aproveitamento econômico do investimento do País em pesquisa. Patentes é também objeto do encarte especial desta edição, com palestras de especialistas no assunto.

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