Entre 1639 e 1643 funcionou no telhado do casarão em Recife em que residia o conde Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês, um observatório astronômico inspirado no da famosa Universidade de Leiden e dotado da melhor instrumentação da época, inclusive de uma luneta. O alemão George Marcgrave (1610-1644), um dos naturalistas trazidos para cá por Nassau, foi o responsável pela abertura dessa janela para os céus em terras tropicais e seu único usuário. O livro O observatório no telhado, de Oscar T. Matsuura, professor aposentado do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e atual pesquisador associado do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), reconta a história dessa empreitada científica e dos estudos feitos por Marcgrave nesse campo específico do conhecimento.
Mais conhecido por seus trabalhos em história natural e cartografia feitos durante sua estada no Brasil, de 1638 a 1643, Marcgrave é pouco lembrado por suas observações astronômicas. No livro, Matsuura enfoca justamente esse lado B do alemão, normalmente ofuscado por ele ter sido coautor, ao lado do médico Guilherme Piso, outro integrante da comitiva de Nassau, do clássico Historia naturalis brasiliae, publicado em 1648. Segundo o pesquisador do Mast, Marcgrave, que estudou em Leiden (entre outros lugares) antes de vir para o Novo Mundo, foi um dos pioneiros no uso da luneta para observações astronômicas sistemáticas. Da sede do poder no Brasil holandês, Marcgrave acompanhou e fez anotações, sempre sozinho, sem auxiliares, de alguns fenômenos celestes, sobretudo eclipses lunares e solares.
Astrônomo de formação, Matsuura comenta tecnicamente cada observação feita por Marcgrave em solo brasileiro e também discute a polêmica histórica em torno da localização exata do observatório no telhado. Fez ainda reconstituições em três dimensões de como teriam sido os instrumentos e o próprio observatório, que descreve como o primeiro das Américas e do Novo Mundo.
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