Em um bloco rochoso de 4 toneladas, retirado no início de 2013 de uma fazenda de gado de Agudo, município no centro do Rio Grande do Sul, paleontólogos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, encontraram três exemplares de um novo gênero e espécie de dinossauro herbívoro, batizado Macrocollum itaquii. Incrustados lado a lado em um pedaço ovalado de rochas do período Triássico, com idade de 225 milhões de anos, os fósseis representam o registro mais antigo de um dinossauro de pescoço longo, segundo os autores da descoberta, relatada em artigo científico publicado hoje (21/11) na revista britânica Biology Letters.
O termo greco-latino Macrocollum, usado para designar o gênero do animal, significa pescoço longo (o nome itaquii é uma referência a José Jerundino Machado Itaqui, um dos responsáveis pela criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia da UFSM). Da cabeça ao rabo, o comprimento total do M. itaquii era de cerca de 3,5 metros (m), dos quais aproximadamente 1 m era ocupado pelo pescoço. O tamanho avantajado dessa parte do corpo facilitava o acesso à vegetação mais alta, uma fonte de comida que animais de menor porte não conseguiam acessar. “Dois dos três fósseis estavam muito bem conservados e praticamente completos, inclusive com os crânios”, comenta Rodrigo Temp Müller, aluno de doutorado da pós-graduação em biodiversidade animal da UFSM, principal autor do artigo. “O fato de terem sido encontrados juntos reforça a ideia de que esses animais viviam em bandos.” Segundo o paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto, outro autor do estudo, os exemplares encontrados são provavelmente os dinossauros do Brasil com a anatomia mais bem preservada. O trabalho também é assinado pelo paleontólogo Sérgio Dias da Silva, da UFSM, orientador do doutorado de Müller.
A nova espécie pertence ao grupo dos sauropodomorfos, que englobavam as primeiras formas de dinossauros geralmente herbívoros, surgidos há pouco mais de 230 milhões de anos, mais ou menos na mesma época em que apareceram os primeiros dinossauros carnívoros. Ao lado da Argentina, o Rio Grande do Sul concentra os fósseis mais antigos desse grupo no mundo. Mais tarde, entre os períodos Jurássico e Cretáceo (entre 201 milhões e 66 milhões de anos atrás), os sauropodomorfos dariam origem aos maiores animais que já caminharam sobre a Terra: quadrúpedes gigantes e pescoçudos como o brontossauro e o braquiossauro, que podiam pesar algumas dezenas de toneladas e medir até 30 metros de comprimento.
No entanto, como o M. itaquii, os primeiros sauropodomorfos ainda não apresentavam todo esse desenvolvimento excepcional. Também encontrados na região da Santa Maria, o Buriolestes schultzi e o Bagualosaurus agudoensis mediam, por exemplo, respectivamente 1,5 e 2,5 m de comprimento. Eram, portanto, até menores do que M. itaquii. O primeiro viveu cerca de 233 milhões de anos atrás, 3 milhões de anos antes do segundo. De acordo com medições feitas pelos autores do trabalho, o tamanho desse grupo de dinossauros aumentou 230% em um intervalo de tempo de 8 milhões de anos, entre 233 milhões e 225 milhões de anos atrás. O pescoço também cresceu com o passar do tempo. “Em termos proporcionais, o tamanho do pescoço do M. itaquii é o dobro do de outros sauropodomorfos primitivos”, comenta Langer.
Artigo científico
MÜLLER, R. T. et al. An exceptionally preserved association of complete dinosaur skeletons reveals the oldest long-necked sauropodomorphs. Biology Letters. v. 14, n. 11. 21 nov. 2018.