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Carta da editora | 110

Uma lei pela vida

A Lei de Biossegurança não poderia ocupar outra posição senão a de capa desta edição de Pesquisa Fapesp. Porque sua aprovação final no Congresso, em 2 de março, e a sanção pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 24 de março último, representam um claro, importante avanço na política científica e tecnológica do país – aliás, bem compreendido e difundido pela mídia nacional em seu conjunto. Ao longo das 12 páginas que, a partir da 24, tratam do tema, os editores Claudia Izique e Marcos Pivetta se revezam para mostrar as batalhas e as articulações entre diferentes atores que garantiram a vitória dos defensores das pesquisas com células-tronco embrionárias e transgênicos; o panorama da pesquisa atual com células-tronco no país e suas possibilidades de desenvolvimento com a nova lei; e, por fim, as perspectivas, de conhecimento e econômicas, que se abrem com o capítulo referente  aos alimentos geneticamente modificados na nova legislação. Para completar essa ampla cobertura ainda aproveitamos o fato de a geneticista Mayana Zatz ter se transformado numa espécie de figura símbolo da luta pela aprovação da pesquisa com as células-tronco embrionárias para fazer dela a personagem da entrevista pingue-pongue desta edição, a partir da página 12. Claro que Mayana, uma pesquisadora brilhante e reconhecida internacionalmente, ouvida aqui por Pivetta e por mim, poderia ter aparecido numa dessas entrevistas há muito tempo e, a rigor, a revista já devia isso a seus leitores. Aproveitamos então a oportunidade para saldar a dívida.

Um outro destaque neste número, que seguramente seria assunto de nossa capa, não fose a Lei de Biossegurança, é a reportagem do editor assitente de ciência, Ricardo Zorzetto, a partir da página 48, sobre resultados das mais recentes pesquisas do sono em curso no Centro de Estudos do Sono, um dos Cepids, ou Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão financiados pela FAPESP. O mais surpreendente deles, a ser tomado e reexaminado com cautela, fala de evidências encontradas em ratos de que o hormônio feminino progesterona seria responsável em determinadas circunstâncias pela ereção do pênis. Nem sempre, ao que parece, a testosterona manda. Se isso for confirmado por novos estudos, temos certamente pela frenteuma mudança de peso no conhecimento atual do papel dos hormônios sexuais, em especial a progesterona, o estrogênio e a testosterona. Ainda na seção de ciência vale destacar a reportagem do editor Carlos Fioravanti, a partir da página 62, sobre as novas e inesperadas propriedades de materiais magnéticos, descobertas por um grupo de pesquisadores paulistas e cariocas. No mundo prático, essas propriedades autorizam já a sonhar, por exemplo, com refrigeradores alimentados por materiais capazes de esfriar ou esquentar com muito mais eficiência quando submetidos a um campo magnético.

De qualquer modo, se sonhos e sono têm ainda vastas regiões insondadas, e talvez mesmo insondáveis por muito tempo, os altos e baixos, os cumes e as depressões do relevo brasileiro, pelo contrário, se revelam agora com enorme nitidez, graças a um trabalho produzido pela Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, sobre imagens captadas pelo ônibus espacial Endeavour, como relata o editor de tecnologia, Marcos de Oliveira, a partir da página 72. E, por fim, vale a pena um mergulho lúdico no universo dos quadrinhos, para conferir sua trajetória e sua presença – poderosa, álias – no panorama cultural brasileiro. O editor de humanidades, Carlos Haag, conta a partir da página 86 que as novas pesquisas e um livro fascinante mostram como os quadrinhos, ao estilo do He-Man nos anos 1980, por aqui ainda têm força.

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