A carreira do biólogo norte-americano David Sabatini parecia ter chegado ao fim depois que ele foi acusado de assédio sexual por Kristin Knouse, uma colega com quem teve um relacionamento amoroso embora fosse seu superior hierárquico, e também por outros subordinados em uma investigação feita pelo Whitehead Institute, centro de pesquisa biomédica em Cambridge, nos Estados Unidos.
Conhecido mundialmente por contribuições em estudos sobre sinalização celular e metabolismo de câncer e mencionado como candidato ao Prêmio Nobel, o pesquisador de 55 anos perdeu o emprego em 2021 no Howard Hughes Medical Institute (HHMI) e foi forçado a abandonar o laboratório que liderava no Whitehead Institute. Por fim, em maio de 2022, na iminência de ser demitido também do Massachusetts Institute of Technology (MIT), renunciou ao cargo de professor. Ainda recebeu uma proposta para se transferir para a Escola de Medicina da Universidade de Nova York, mas o convite acabou sendo retirado, após protestos de estudantes e pesquisadores contra sua contratação.
Pois agora, após um ano e meio de ostracismo, Sabatini ganhou uma nova chance. O bilionário Bill Ackman, presidente de uma gestora de fundos, a Pershing Square Capital Management, anunciou em um jantar de consultores científicos de sua empresa que ele e um outro financiador cuja identidade não foi revelada darão a Sabatini uma dotação de US$ 2,5 milhões por ano nos próximos cinco anos para que ele monte um novo laboratório e volte a se dedicar à pesquisa. “David agora está fazendo os preparativos de lançamento de seu laboratório”, tuitou o bilionário, no dia 2 de fevereiro. Ackman diz considerar a punição exagerada ante as evidências que pesam contra o pesquisador. Sabatini nega que tenha cometido assédio e se diz vítima de acusações falsas feitas pela colega com quem se relacionou.
O anúncio despertou reações díspares. Jeffrey Flier, endocrinologista e ex-reitor da Escola de Medicina da Universidade Harvard, disse à revista Science que a decisão de Ackman “envia a mensagem de que algumas pessoas importantes e éticas estão dispostas a apoiar David Sabatini, ajudando-o a retomar sua brilhante carreira como cientista e mentor de outros cientistas”.
Também houve quem visse a reabilitação de Sabatini como uma ofensa a pessoas que sofreram assédio no ambiente acadêmico. “Isso faz parte de um padrão no qual homens poderosos facilmente simpatizam com outros homens poderosos acusados de assédio sexual, mas não com as mulheres que são vítimas deles”, disse a neurocientista cognitiva Jessica Cantlon, da Universidade Carnegie Mellon.
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