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Medicamentos

Vacina contra esquistossomose

Imunizante desenvolvido pela Fiocruz está pronto para a fase 2 de testes clínicos

Peter Ilicciev / fiocruz

A candidata a uma vacina que poderá proteger os seres humanos da esquistossomose passou na fase inicial dos testes clínicos. Eles são necessários para que possa ser comprovada a segurança da futura vacina. Totalmente desenvolvida no Brasil, ela tem como alvo o verme Schistosoma mansoni, que provoca a doença. A transmissão ocorre no consumo de água contaminada com larvas do parasita. Febre, dor de cabeça, falta de apetite, calafrios, tosse e diarreia são alguns dos sintomas da doença, também chamada de barriga-d’água porque provoca um inchaço no abdômen, se não for tratada com medicamentos. A esquistossomose atinge cerca de 7 milhões de brasileiros e 200 milhões de pessoas no mundo, principalmente na África. Outros 800 milhões estão expostos ao risco de contrair a enfermidade no planeta.

A vacina foi desenvolvida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro, sob a coordenação da médica e pesquisadora Miriam Tendler, que esteve à frente dos estudos por 30 anos. O imunizante usa um antígeno – substância que estimula a produção de anticorpos – para neutralizar o ataque do parasita no corpo humano. O antígeno é uma proteína chamada de Sm14 e foi escolhido em 2014 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos projetos prioritários no mundo para doenças que atingem as populações mais carentes.

Produto feito na Fiocruz, no Rio de Janeiro. Se aprovado, será fabricado pela brasileira Orygen

Gutemberg Brito / fiocruzProduto feito na Fiocruz, no Rio de Janeiro. Se aprovado, será fabricado pela brasileira OrygenGutemberg Brito / fiocruz

Na fase 1 dos testes clínicos a vacina foi administrada em seres humanos para verificar seu grau de segurança. “Testamos em 20 homens e 10 mulheres sadios no estado do Rio de Janeiro; os resultados foram muito bons e nos indicaram a passagem para a próxima fase, com mais pessoas”, explica Miriam. Na primeira fase, o estudo contou com a parceria da Universidade de Washington e do Instituto de Pesquisa em Doenças Infecciosas (Idri), nos Estados Unidos. “Foram analisados 486 parâmetros relativos à segurança da vacina.” Parte do estudo foi publicado em janeiro na revista Vaccine.

A fase 2 está prevista para começar neste ano e deverá ser feita com voluntários no Brasil e na África. Os testes da fase 1 consumiram R$ 5 milhões, financiados por meio de parceria público-privada (PPP) com a empresa brasileira Ourofino, de Minas Gerais, especializada em medicamentos veterinários. No início deste ano, a Ourofino cedeu os direitos que tinha sobre a vacina humana, por ter licenciado o imunizante da Fiocruz, e ficou apenas com a versão veterinária. A Orygen, uma joint venture formada pelas empresas Biolab e Eurofarma, também brasileiras, assumiu a vacina humana. A segunda fase terá investimentos das empresas, da Fiocruz e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que no total somam US$ 4,5 milhões.

Artigo científico
Santini-Oliveira, M. et. al. Schistosomiasis vaccine candidate Sm14/GLA-SE: Phase 1 safety and immunogenicity clinical trial in healthy, male adults. Vaccine. 34, p. 586-94. 20 jan. 2016.

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