Imprimir Republicar

Boas práticas

Vacina da discórdia

Fabricante de imunizante indiano contra a Covid-19 processa autores de artigo que apontaram efeitos colaterais persistentes

A Bharat Biotech, empresa sediada na Índia que desenvolveu a vacina contra a Covid-19 Covaxin, está processando os 11 autores de um artigo científico publicado em maio na revista científica Drug Safety que apontou efeitos colaterais persistentes do imunizante um ano após sua administração. De acordo com a ação aberta em uma corte em Hyderabad, as conclusões do artigo são “difamatórias” e causaram “choque, alarme e hesitação” entre a população a respeito da qualidade da vacina. A empresa pede que a publicação do paper seja suspensa e que os autores, todos eles pesquisadores da Benaras Hindu University (BHU), em Varanasi, sejam proibidos de publicar novas avaliações sobre produtos da empresa.

Produzida a partir de vírus inativado, a Covaxin foi aprovada para uso emergencial pela Organização Mundial da Saúde em novembro de 2021. Dezessete por cento das doses aplicadas na Índia durante a pandemia foram desse imunizante, também exportado para vários países. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegou a autorizar a importação de 4 milhões de doses, que acabou revogada depois que o representante da empresa indiana no Brasil, a Precisa Medicamentos, foi acusada de irregularidades.

O paper baseou-se no relato com 635 adolescentes e 291 adultos que tomaram a vacina entre janeiro de 2022 e agosto de 2023 – as entrevistas foram feitas por telefone um ano após a aplicação do imunizante. A descrição de efeitos adversos incluiu distúrbios no sistema nervoso (5,5% dos adultos e 4,7% dos adolescentes) e anormalidades na menstruação (4,6% das adolescentes). Acidentes vasculares cerebrais e casos da síndrome de Guillain-Barré foram identificados, respectivamente, em 0,3% e 0,1% dos participantes. Adolescentes do sexo feminino e indivíduos com histórico de alergia foram identificados como de maior risco.

Segundo o Conselho Indiano de Pesquisa Médica, que desenvolveu a vacina em conjunto com a empresa, a metodologia do estudo, baseada em contatos telefônicos, é “falha” e o trabalho foi “mal desenhado”. A Bharat Biotech declarou que a vacina foi avaliada de modo rigoroso em três fases de ensaios clínicos com mais de 27 mil indivíduos e os eventos adversos relatados entre as pessoas vacinadas eram equivalentes aos do grupo placebo. Os autores do artigo da Drug Safety defenderam a validade dos resultados, afirmando que eles oferecem “entendimentos valiosos para pesquisas futuras” sobre efeitos adversos da vacina, de acordo com o jornal The Times of India.

Republicar