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carta da editora | 551

Versos como argumentos

Câncer de mama é a segunda neoplasia mais comum em mulheres no Brasil e a que mais mata. Em 2025, são previstas 18 mil vítimas fatais. A taxa de incidência permaneceu estável neste século, mas a de mortes cresceu continuamente. É entre a população de até 40 anos que a mortalidade avança em ritmo mais acelerado, a quase 2% ao ano. Jovens concentram os casos agressivos, de diagnóstico dificultado por terem mamas mais densas e não integrarem o grupo-alvo das ações de rastreamento.

Um programa-piloto de rastreamento ativo, iniciado na cidade paulista de Mococa, propõe-se a identificar as moradoras na faixa etária de maior risco para câncer de mama e de colo do útero – que também apresenta uma mortalidade crescente, mesmo sendo prevenível em muitos casos com a vacina contra HPV. O editor de Ciências Biomédicas, Ricardo Zorzetto, mergulha em estudos para trazer um retrato desse cenário inquietante.

Para dar algum alento, reportagem traz uma boa notícia. O consumo de refrigerantes no país caiu 33% entre 2010 e 2021. Fator importante no controle de doenças metabólicas e cardiovasculares, o consumo dessas bebidas ultraprocessadas continua alto: brasileiros tomam, em média, quase 60 litros por ano, colocando-nos na 34ª posição mundial.

Eridiana Scarpelli

Sem que seja planejado, algumas edições desta revista têm um caráter quase temático. A vida do sanitarista Geraldo de Paula Souza chama a atenção pela diversidade de sua atuação nesse universo da saúde pública. Um dos idealizadores da OMS, ele implementou, ainda nos anos 1930, os primeiros centros de saúde no país, com uma visão de medicina preventiva e de saúde comunitária que hoje caracteriza o sistema público. Fez experimentos para avaliar a qualidade da água em São Paulo e desenvolveu um dispositivo para purificação hídrica.

Perito em prospectar pautas para a seção Memória, como a de Paula Souza, o editor Carlos Henrique Fioravanti recentemente recuperou um e-mail de 2015 que convocava a equipe para uma reunião com o seu então coordenador científico, Luiz Henrique Lopes dos Santos. Nela, fui apresentada à redação dessa publicação tão singular. Na casa há mais de 20 anos, o editor-chefe, Neldson Marcolin, costuma dizer a quem chega que leva ao menos um ano para começar a entender a revista – o projeto editorial, a metodologia de produção de conteúdo, o acurado processo de checagem de informações, o equilíbrio de temas, linguagens e público. Sem o benefício da clareza conceitual de LH, como nos referimos a ele, minha adaptação teria sido mais difícil. Essa qualidade, lapidada por uma vida dedicada ao estudo da lógica, aparece na entrevista que concedeu aos editores Ana Paula Orlandi e Fabrício Marques.

Em abril, produzimos uma edição especial de Pesquisa FAPESP em inglês, publicada duas vezes por ano como uma coletânea de reportagens veiculadas em português no semestre anterior. Excepcionalmente, para marcar o Ano Cultural Brasil-França, do qual a FAPESP participará em junho, preparamos conteúdo inédito sobre pesquisas e colaboração entre os dois países, em uma edição com parte em francês. Invertendo o percurso habitual, trouxemos desse material uma entrevista com a economista franco-guianense Christiane Taubira, ex-ministra da Justiça da França, que hoje ocupa a cátedra José Bonifácio, da USP. Parlamentar por 19 anos, foi alvo de insultos racistas durante debates, que respondia com poesia. “Toda vez que eu estava em um confronto, nos momentos mais delicados, me vinham versos como argumentos.”

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