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ENGENHARIA ELÉTRICA

Vigia eletrônico a distância

Empresa de São Carlos elabora um sistema inédito de acesso remoto

Um aparelho capaz de funcionar como um guardião que controla temperatura, pressão, umidade e mau funcionamento de sistemas e equipamentos. Essa é a proposta do Modcon, um controlador eletrônico a distância desenvolvido pela Incon, uma pequena empresa de São Carlos que produz 18 tipos de aparelhos voltados para o controle de processos. São contadores, tacômetros, temporizadores, termostatos microprocessados, codificadores, sensores, transmissores, conversores de sinais, fontes de alimentação e relés.

O novo aparelho usa a linha telefônica comum como via de transmissão de informações discando automaticamente, se preciso, o número do telefone de uma central de supervisão da empresa que o está utilizando, durante as 24 horas do dia. Ele será muito útil para todos os tipos de empresas da área de telefonia, por exemplo, que mantêm estações isoladas de transmissão. O Modcon permite também que se atue a distância nos equipamentos, modificando desde o funcionamento de uma máquina até a temperatura do ar-condicionado por meio de softwares próprios. Mais do que interligar dados, esse aparelho informa o que acontece no ambiente, diminuindo, assim, o drama que ronda a cabeça de quem dirige companhias que operam dia e noite.

“Imagine uma célula de telefonia fora do ar por incêndio, sabotagem ou um raio. Quantos aparelhos ficarão mudos? E qual o prejuízo disso?”, pergunta Paulo Giglio, sócio da Incon junto com Vanberto Nave. “A solução desse problema está cada vez mais no sensoriamento a distância”, afirma Durval Makoto Akamatu, professor aposentado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenador dos cursos de informática da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação de Lins. Ele é o coordenador do projeto Desenvolvimento de um Controlador Microprocessado de Propósito Geral de Baixo Custo com Capacidade de Comunicação de Dados Remota em Rede Multiponto, do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.

Por esse projeto, que deve encerrar-se no início de 2001, a Incon está recebendo R$ 258 mil da Fundação ao longo de três anos. Ao todo, entre funcionários e proprietários da Incon, além de estudantes da UFSCar que colaboram no projeto, mais de 20 pessoas estão mobilizadas. Dois dos colaboradores mais próximos de Akamatu são os professores Paulo Rogério Politano, chefe do Departamento de Computação da Ufscar, e Orides Morandin Júnior, do mesmo departamento, que resume a importância do trabalho que vem sendo feito: “Pesquisamos no mercado nacional e não encontramos nada parecido com o que é desenvolvido aqui em São Carlos”.

Testes práticos
Até agora foram realizados diversos testes de campo com bons resultados. “Todos os passos necessários para a efetivação do controlador foram dados”, afirma o coordenador. Grandes empresas abriram portas e máquinas para que o engenho saído da Incon fosse testado no dia-a-dia. É o caso da Uniklima, empresa localizada na cidade de Embu, na Grande São Paulo, que fornece equipamentos de ar-condicionado para grandes empresas. “Nós fornecíamos termostato e controladores para a Uniklima e, quando a empresa passou a instalar máquinas de ar-condicionado nas salas dos transmissores das companhias de telecomunicação, surgiu o interesse pelo Modcon”, explica Nave.

Hoje, o principal desafio da Incon é desenvolver protocolos que interliguem os diversos sistemas de acesso que envolvem o funcionamento do Modcon. Um primeiro estudo está sendo iniciado agora em agosto para permitir a conexão do Modcon com a Internet. Tal estudo deverá ser desenvolvido juntamente com alunos de graduação e pós-graduação do Departamento de Computação da UFSCar.Tanto na Incon quanto na universidade a contagem regressiva para interligação do Modcon à Internet está acionada. Para a empresa, essa nova técnica será o incremento que falta para agregar valor a seus produtos, capacitando-a para atender a novos segmentos de mercado, até do exterior. Com isso, Giglio e Nave esperam, com o Modcon, elevar em pelo menos 20% o faturamento da empresa.

Sociedade acadêmica
A Incon iniciou suas atividades em 1987, com o objetivo de substituir alguns produtos eletrônicos importados. Nave e Giglio, então professor e aluno na Escola Técnica de Mococa, juntaram suas economias, cerca de R$ 4 mil, e fundaram a empresa que teve como berço o Centro de Desenvolvimento de Indústrias Nascentes (Cedin) de São Carlos. O empreendimento inicial foi “tropicalizar” componentes de máquinas largamente compradas fora do país, tais como temporizadores para tratores compactadores de asfalto.

Para crescer, a Incon foi ampliando seu leque de produtos. Assim, foram lançados controladores de temperatura, contadores digitais, instrumentos para avião e sistemas de controle para incubadoras, além de sensores, dos mais variados modelos, para uso em ambientes diversos, rurais e industriais. Dez anos depois de lançar a Incon no mercado, Nave e Giglio perceberam que sonhar mais alto não era apenas uma necessidade imperiosa trazida pela globalização. Eles perceberam a necessidade de entrar na área de equipamentos para acesso remoto. Nesse caminho, Nave saiu a campo, associou-se à UFScar e pediu financiamento à FAPESP. “Tudo o que está sendo feito é fruto do programa PIPE”, reforça Nave.

O novo controlador usa uma diminuta placa com um chip-modem, menor mas muito parecida com as que existem nos computadores, responsáveis, por exemplo, pelo acesso à Internet. “Tivemos de desenvolver todo o hardware e o software, além dos protocolos de comunicação”, explica Paulo Giglio. O Modcon é um equipamento que potencializa um conjunto de tecnologias já existentes. São mais de 150 componentes num aparelho que pesa em torno de 350 gramas, fácil de instalar e de monitorar.

Diferença de custos
O desenvolvimento do produto forçou a Incon a trabalhar sistematicamente em microcomponentes. Por exemplo, utilizando técnicas que permitem uma redução das dimensões desses produtos eletrônicos. Para esse trabalho, foi preciso adquirir uma estação de solda e lentes que ampliam 30 vezes o material a ser gravado nos circuitos integrados.

A Incon tem concorrentes para o novo produto, todos importados, a um custo próximo de US$ 1,2 mil. E com uma diferença importante. “Equipamentos de controle existem muitos no mercado, é lógico, mas com as características e para as finalidades indicadas para o Modcon não existe nada igual no País”, comenta Nave. Além disso, os controladores importados precisam de ajustes para funcionar nas condições e sistemas brasileiros. E isso certamente vai torná-los muito mais caros. Para Nave, além da tecnologia avançada do Modcon, uma outra questão deve garantir o sucesso desse aparelho. Ele deve custar cerca de R$ 300,00. Um preço baixo e atraente para um vigia eletrônico

PERFIL
Durval Makoto Akamatu
é professor aposentado do Departamento de Computação da Ufscar. Formou-se em Engenharia Civil na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), onde também fez mestrado. Doutorou-se em Engenharia de Sistemas e Computação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Projeto
Desenvolvimento de um Controlador Microprocessado de Propósito Geral de Baixo Custo com Capacidade de Comunicação de Dados Remota em Rede Multiponto (nº 97/07553-0); Modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas – PIPE; Coordenador Durval Makoto Akamatu; Investimento: R$ 258.240,40

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