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Universidades

Zona franca no deserto

O emirado árabe de Dubai investe US$ 10 bilhões para tornar-se um pólo internacional de ensino superior

DIVULGAÇÃO/MIDDLESEX UNIVERSITY Formatura no campus da Universidade Middlesex em Dubai, aberto em 2005DIVULGAÇÃO/MIDDLESEX UNIVERSITY

Um enclave de 2,3 quilômetros quadrados na periferia de Dubai, um dos sete Emirados Árabes Unidos, tornou-se uma espécie de zona franca da educação de qualidade internacional numa região onde, até poucas décadas atrás, havia apenas o deserto. Nos últimos 3 anos, pelo menos duas dezenas de universidades de países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Bélgica e Índia abriram sucursais de seus campi na área, batizada de Cidade Acadêmica Internacional de Dubai. A partir do segundo semestre dois novos participantes abrirão suas portas em Dubai: a Universidade do Estado de Michigan e o Rochester Institute of Technology, do estado de Nova York, cujas sedes estão quase prontas. Eles se somarão a instituições como a australiana Murdoch University International, conhecida por seus programas na área de mídia e comunicações; a Hult International Business School, que oferece cursos de MBA em negócios e finanças em Boston; ou ainda a londrina Universidade Middlesex. Harvard também está presente no emirado. Sua escola de medicina estabeleceu um hospital e uma fundação de pesquisa numa zona criada em 2002 para abrigar hospitais e clínicas de alta qualidade.

Na cidade acadêmica, cerca de 10 mil estudantes freqüentam cursos de 1 a 4 anos de duração, em áreas como engenharia, ciência da computação, moda e design, biotecnologia, meio ambiente e negócios. A intenção é chegar a 30 mil nos próximos 5 anos. “A lista cada vez maior de instituições mostra que seremos uma base regional para educação superior de alta qualidade”, comemora Ayoub Kazim, diretor executivo da cidade.

DIVULGAÇÃO/MSU Obras dos prédios da Universidade de Michigan…DIVULGAÇÃO/MSU

O que acontece em Dubai simboliza uma nova tendência vivida pelas universidades de classe mundial. Suas estratégias de internacionalização, que se justificam pela necessidade de preparar alunos para o mundo globalizado e atrair talentos internacionais, já não se baseiam apenas em programas de intercâmbio, formação de redes de pesquisa ou cursos a distância como antigamente. Está crescendo o número de instituições que criam sucursais no exterior, sobretudo no Oriente Médio. Em Doha, capital do Qatar, é possível estudar medicina num campus avançado de Cornell ou ciência da computação na sucursal de outra instituição americana, a Universidade Carnegie Mellon. A Universidade de Nova York vai abrir em 2010 um campus dedicado a artes e humanidades em Abu Dhabi, o maior dos emirados árabes, depois de receber uma dotação de US$ 50 milhões do xeque local.

A tendência é estimulada pelas grandes dotações oferecidas às instituições. No caso de Dubai, as universidades internacionais são seduzidas por um pacote de vantagens que inclui isenção total de impostos, garantia de repatriação integral dos lucros obtidos e facilidades burocráticas para estudantes, professores e funcionários vindos de fora. Sem falar na infra-estrutura da cidade acadêmica, dotada de restaurantes, cinemas, ginásios esportivos e áreas de lazer. A intenção do xeque de Dubai, Mohammed Al-Maktoum, é transformar o país num pólo de atração de estudantes estrangeiros. O emirado tem pouco petróleo, ao contrário dos vizinhos, e a ambição de seu mandatário é convertê-lo num grande centro de turismo e tecnologia. Além da construção de hotéis de arquitetura exótica e do aterramento de um pedaço do seu litoral com a sugestiva forma de uma palmeira, o governo criou a Cidade da Internet, inaugurada em 2000, que conta com instalações de empresas como Microsoft, Siemens e IBM, e planeja lançar um pólo de laboratórios farmacêuticos. Para o projeto da cidade acadêmica foram destinados US$ 10 bilhões. Dubai tem 1,5 milhão de habitantes espalhados por uma área de menos de 3,8 mil quilômetros quadrados – o equivalente a pouco mais do que duas cidades de São Paulo.

DIVULGAÇÃO/RIT … e do Rochester Institute of TechnologyDIVULGAÇÃO/RIT

Ativo diplomático
Embora as universidades com campus no exterior insistam na tese de que oferecem a mesma qualidade de ensino da matriz, muitos funcionários e professores são contratados localmente, com contratos de curto prazo. “Muitos desses gestores de universidades estão tentando se apresentar como benevolentes e altruístas quando, na verdade, querem é arrecadar dinheiro”, disse ao jornal The New York Times a deputada Dana Rohrabacher, republicana da Califórnia, crítica dessa onda internacionalista. David Skorton, reitor da Universidade Cornell, defende a estratégia e diz que ela traz benefícios para os Estados Unidos. “A educação superior é o ativo diplomático mais importante que nós temos. Eu acredito que esses programas podem reduzir a fricção entre países e culturas”, afirmou Skorton.

Não é novidade que a educação de classe internacional tenha virado uma mercadoria disputada – e que os Estados Unidos talvez sejam o país mais habilitado para vendê-la. Alunos estrangeiros admitidos em universidades norte-americanas injetaram US$ 14,5 bilhões no país no ano passado em anuidades escolares, despesas com moradia e compra de livros, US$ 1 bilhão a mais que no ano anterior. Esse valor poderia ser maior não fosse o aumento das restrições ao ingresso de estudantes estrangeiros após os atentados de 11 de setembro de 2001. O principal embaraço atingiu estudantes do Oriente Médio, cujo contingente caiu 10% em 2002 e outros 9% em 2003 e só voltou aos níveis pré-atentados no ano passado. Abrir campus no exterior não deixa de ser uma forma de atender a essa demanda sem fomentar a imigração.

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