Os textos completos de 606 periódicos científicos da editora Elsevier Science Inc. estarão em breve disponíveis eletronicamente para 86 bibliotecas, quase 12 mil pesquisadores e cerca de 115 mil estudantes de graduação e pós-graduação de cinco universidades paulistas, mais o Centro Latino Americano de Informação em Ciência da Saúde – Bireme. Esse novo acesso amplo e ágil à informação científica internacional mais atualizada está sendo propiciado à comunidade científica de São Paulo pelo Programa Biblioteca Eletrônica – ProBE, lançado pela FAPESP no dia 18 de maio. Os títulos da Elsevier constituem um primeiro passo do programa, e publicações de outras editoras deverão gradativamente somar-se a eles.
No ato de lançamento do ProBE, foram assinados, entre a FAPESP e a editora holandesa Elsevier, uma das maiores do mundo no segmento de periódicos científicos, os dois contratos que o formalizaram. O primeiro estabelece os termos de licença de uso, pela Fundação, da versão eletrônica das 606 revistas assinadas, disponibilizando seus textos completos, através da Rede ANSP (Academic Network at São Paulo), para as instituições já engajadas no programa. O período da licença previsto no contrato é de 1998 a 2000, mas, ainda na solenidade de lançamento do programa, o presidente da Elsevier, Derk Haank, brindou os novos usuários da versão eletrônica de suas publicações com o acesso, sem ônus adicional, aos textos de 1997. O segundo contrato assinado concede à FAPESP licença de uso do software de gerenciamento da base de publicações eletrônicas.
O ProBE teve origem em um projeto elaborado pelos Sistemas de Bibliotecas das universidades de São Paulo – USP, Estadual Paulista – UNESP, Estadual de Campinas- Unicamp, Federal de São Carlos – UFSCar, Federal de São Paulo – UNIFESP e Bireme. O termo de adesão ao projeto, assinado por essas instituições em agosto de 1998, levou-as a se reunir num consórcio que compartilha, internamente e com a FAPESP, custos e esforços para a implantação do programa. Assim, ao consórcio, que deverá mais adiante incluir novas instituições, principalmente universidades particulares, cabe em termos financeiros basicamente o custo das assinaturas das revistas impressas em papel (pouco mais de R$ 9 milhões, para o período de 1998 a 2000). Já a FAPESP banca os custos referentes ao suporte eletrônico, incluindo aí hardware, software e treinamento de pessoal (R$ 2,1 milhões para o período considerado).
O ProBE soma-se, na verdade, a duas iniciativas anteriores da FAPESP de colocar ao alcance da comunidade científica paulista informações científicas por via eletrônica: o Projeto SciELO e o acesso ao Web of Science -WoS. O SciELO, iniciado em 1997, numa parceria entre a FAPESP e a Bireme, é um projeto de estruturação de uma base de dados eletrônica de revistas científicas brasileiras. Com os textos em inglês, essa base, que no momento já conta com 29 revistas, torna os mais importantes periódicos brasileiros acessíveis tanto à comunidade científica nacional quanto internacional, retirando assim a melhor produção científica do país de uma certa clandestinidade a que ela se via relegada.
Quanto ao WoS, é uma base de dados do Institute for Scientific Information – ISI, dos Estados Unidos, que contém informação (resumo, referências e citações) sobre os artigos publicados, a partir de 1974, em mais de 8.400 periódicos especializados, e indexados pelo próprio ISI. As três bases de dados, conectadas, mudam completamente o padrão de acesso que até há pouco os pesquisadores paulistas tinham às mais recentes informações científicas especializadas.
Explosão da informação
Essa mudança, espécie de rápida abertura de janelas para visualizar em tempo real tudo que se passa no mundo da informação científica, parece estar sendo bem compreendida e absorvida por pesquisadores e profissionais de biblioteconomia e documentação das universidades paulistas. E sinal disso é que eles lotaram o auditório da FAPESP, na manhã do dia 18 de maio, para assistir ao lançamento do ProBe, que teve, na mesa de trabalhos, o presidente da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz; o representante do secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Eliezer Rizzo de Oliveira; o reitor da UNIFESP, Hélio Egydio Nogueira; o reitor da UFSCar, José Rubens Rebelatto; o reitor da UNESP, Antonio Manoel dos Santos Silva; o reitor da UNICAMP, Hermano Tavares; o representante do reitor da USP, Hernan Chaimovich; o diretor da Bireme, Abel Laerte Packer; o presidente da Elsevier, Derk Haank; e o diretor da Elsevier para a América Latina, Cláudio Marcelo Rothmuller.
Uma exposição técnica sobre o ProBE foi apresentada pela coordenadora do programa e diretora do Sistema de Bibliotecas da USP, Rosaly Favero Krzyzanowski, depois das falas do professor Brito Cruz e de Derk Haank.Rosaly começou mostrando a extraordinária expansão experimentada pelas publicações científicas ao longo do século 20, e em especial nos últimos 20 anos, para explicar por que se tornou imperioso organizar bases de dados referenciais, destinadas a facilitar o acesso do pesquisador à literatura especializada que mais diretamente lhe interessa.
Assim, se em 1700 existiam no mundo apenas 10 títulos que podiam ser enfeixados como periódicos científicos, eles eram 1 mil em 1800, 10 mil em 1900, 20 mil em 1947, 100 mil em 1979 e, já em 1998, 890 mil. As projeções apontam a existência de 1 milhão de títulos de revistas científicas no ano 2000. “Dada a extraordinária expansão da literatura na segunda metade deste século, com a conseqüente dificuldade dos pesquisadores para absorvê-la, já a partir de 1960 começavam os esforços para organizar bases de dados referenciais”, disse Rosaly. Dessa forma, surgiram primeiro os bancos referenciais com material em papel, depois os bancos acessados por linha discada, até chegar-se à era dos CD-Roms e, por fim, à busca on line de dados.
A coordenadora do ProBE explicou em seguida, detalhadamente, os objetivos desse programa, os passos que foram dados para sua viabilização, a metodologia a ser seguida para o desenvolvimento da biblioteca eletrônica e os benefícios que se esperam do ProBE para a pesquisa científica em São Paulo. Segundo Rosaly, os pesquisadores das instituições consorciadas terão de imediato acesso on line aos textos disponíveis no banco de dados da editora em Nova York, enquanto não está pronta a instalação local da base de dados da Elsevier, o que ocorrerá entre final de agosto e início de setembro.
O primeiro ano de funcionamento do ProBE, em paralelo aos trabalhos de instalação, capacitação de recursos humanos e operacionalização do sistema, vai implicar uma avaliação criteriosa do uso dos textos em versão eletrônica, para que se tomem em seguida algumas decisões. ” Hoje as instituições consorciadas ainda mantêm muita duplicidade na assinatura das revistas em papel, por exemplo. Temos 606 títulos assinados, mas um total de 1.200 assinaturas feitas pelas instituições do consórcio. A avaliação nos permitirá, por exemplo, decidir por cortes de assinaturas em versão impressa das revistas, reduzindo custos”, diz Rosaly Favero. Depois de algum tempo, será preciso decidir também quem fica com a guarda das revistas impressas. “Por ora, elas estão espalhadas pelas bibliotecas das instituições consorciadas. É possível que seja melhor reunir as coleções num só local, ou concentrar algumas revistas onde elas são mais utilizadas”, completa. Todos esses são pontos que devem ser acompanhados de perto.
Entre os muitos benefícios do programa que sua coordenadora relacionou, está a possibilidade de uso ilimitado e de acesso simultâneo dos textos de uma revista por muitos usuários, com base em uma única assinatura, o que equivale a uma impressionante redução de custos. Ou melhor, a uma redução típica da era da informação em tempo real.
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