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Epidemiologia

Vírus que causa febre amarela em São Paulo veio provavelmente da Amazônia

Mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes (foto) transmitem o vírus da doença para macacos e humanos nas áreas de floresta

James Gathany / cdc Mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes (foto) transmitem o vírus da doença para macacos e humanos nas áreas de florestaJames Gathany / cdc

A Amazônia é a provável região de origem do vírus da febre amarela silvestre que circula hoje no norte do estado de São Paulo. O virologista Renato Pereira de Souza e sua equipe no Instituto Adolfo Lutz (IAL), na capital paulista, chegaram a essa conclusão depois de fazer o sequenciamento parcial do vírus extraído de macacos encontrados mortos no último semestre nas regiões de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.“Os vírus que infectavam esses animais são geneticamente mais próximos daqueles em circulação na Amazônia do que dos vírus de surtos anteriores ocorridos em São Paulo”, conta Souza, diretor do Núcleo de Doenças de Transmissão Vetorial do IAL. “A Amazônia é possivelmente a fonte dos vírus que estão causando o surto atual em São Paulo e outros estados”, conta. No doutorado, concluído em 2013, Souza analisou como variaram as características genéticas do vírus da febre amarela de 1930 a 2008 na América do Sul. Ao reconstruir a evolução genética do vírus no tempo e no espaço, ele observou que a origem era sempre a Amazônia, onde o vírus circula nas áreas de floresta entre seres humanos e macacos, transmitido por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. De tempos em tempos, o vírus é exportado, provavelmente de carona no sangue de pessoas assintomáticas, para outras regiões, onde subsiste por períodos curtos. “Acredito que esse quadro esteja se repetindo”, afirma Souza. O surto de 2017 já é considerado o maior em 14 anos. Em  janeiro, foram confirmados 127 casos de infecção em quatro estados e 47 mortes (42 em Minas Gerais, três em São Paulo e dois no Espírito Santo). Nos últimos meses, o grupo do IAL notou que o vírus vem atingindo mais espécies de macacos em São Paulo. Era encontrado em bugios e agora foi detectado em macacos-prego e saguis. Os pesquisadores temem que o vírus se espalhe por regiões onde há grandes populações do mosquito Aedes aegypti, que também transmite dengue, zika e chikungunya. Se chegar ao Aedes, a febre amarela pode se tornar uma doença urbana.“Não estamos preparados para isso”, diz Souza.

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