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Carta do editor | 32

A ação integrada das FAPs

As fundações estaduais de amparo à pesquisa científica (FAPs) constituem, sem nenhuma dúvida, um dos mais eficientes e ágeis instrumentos de incentivo à pesquisa e de promoção do desenvolvimento científico e tecnológico, em nível regional ou nacional. E isto não apenas em teoria, embora saibamos das enormes dificuldades vividas por muitas delas.

São as FAPs que, pela proximidade com os pesquisadores e as instituições estaduais de pesquisa, pelo conhecimento de suas realidades e das demandas da própria sociedade local, estão mais capacitadas a gerenciar recursos e programas que dêem resultados positivos. E é indispensável ter em mente que bons resultados científicos e tecnológicos se traduzem também em resultados sócio-econômicos, já que Ciência e Tecnologia estão na base do desenvolvimento.

Se as FAPs forem capazes de ações integradas, a ciência e a tecnologia no Brasil podem dar um grande salto. Em lugar de conhecimentos estanques, mantidos dentro de rígidas fronteiras, ou de projetos isolados, que muitas vezes se sobrepõem a outros, na mesma linha, mas com total ausência de comunicação entre os envolvidos, pode-se ter equipes integradas, criando e difundindo competências, hoje dispersas nacionalmente, com significativo avanço qualitativo.

Não existe tradição de integração entre instituições de pesquisa em nosso país. A FAPESP começou, de certa forma, a quebrar esse distanciamento, no âmbito do Estado de São Paulo, por meio de seus projetos temáticos e, principalmente, do Projeto Genoma-FAPESP. Os primeiros constituem um programa regular da Fundação, com a concessão de auxílios para projetos de pesquisa de maior abrangência e duração, envolvendo equipes de pesquisa de uma mesma instituição ou de instituições diferentes. Quanto ao Genoma-FAPESP, trata-se de um projeto que envolve 33 laboratórios, de diversas instituições e de diferentes áreas de atuação, trabalhando em conjunto e de forma complementar no seqüenciamento genético de uma bactéria, a Xylella fastidiosa, que ataca os citros.

Assim, é hora de começarmos a tentar integrar, em nível nacional ou regional, as FAPs e os pesquisadores, tendo os órgãos federais como indutores dessa integração. Como fazê-lo objetivamente? Seria extremamente salutar, por exemplo, que pesquisadores e laboratórios de outros estados se agregassem ao Projeto Genoma-FAPESP. A participação de novos pesquisadores teria importantes resultados na capacitação de cientistas e no domínio de uma avançada técnica, aplicável a diversas áreas do conhecimento e difundida por todo o país. Com pequeno investimento dos estados ou do CNPq, as FAPs estarão em condições de formar recursos humanos para a área de genética. Vale observar que, além do projeto de seqüenciamento daX. fastidiosa, em andamento, outros dois projetos de seqüenciamento genético deverão ser lançados brevemente pela FAPESP, o da cana-de-açúcar e o do câncer.

A FAPESP já tem instalado o Web of Science, base de dados do Institute of Scientific Information (ISI), que indexa mais de 8.000 títulos de periódicos científicos internacionais, com o resumo e informações sobre os artigos publicados, em todas as áreas do conhecimento. Torná-lo acessível a outras FAPs também representará pequeno investimento, que algum órgão federal poderia realizar.

Por fim, é preciso ter clareza do impacto político de uma ação integrada das FAPs. O fortalecimento das agências e a resposta a isso, traduzida em projetos científicos e tecnológicos bem sucedidos, ajudam na criação de uma consciência, principalmente entre nossas figuras públicas, de que Ciência e Tecnologia devem fazer parte do planejamento estratégico de uma sociedade, estando ligada, portanto, a desenvolvimento. Só assim as FAPs terão autonomia financeira e de gestão, indispensável para que seus projetos não sofram interferência política nem enfrentem problemas de continuidade.

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