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Genoma-Cana

A etapa seguinte

O caminho de pesquisa do genoma da cana-de-açúcar mostra-se claro. Dia a dia, os mecanismos mais íntimos da planta tornam-se mais conhecidos. Mas, vencido o desafio de identificar os genes, impõe-se outro: como lidar com esses genes para fazer com que a cana-de-açúcar, além de açúcar, produza vitaminas, aminoácidos, enzimas de uso agroindustrial ou mesmo fármacos de uso humano? Arruda conta que, por exemplo, bastaria modificar uma das enzimas envolvidas na biossíntese de sacarose, um tipo de açúcar formado por glicose e frutose, para a cana produzir mais frutose, que poderia servir de alimento energético, como já se faz nos Estados Unidos, a partir de amido de milho.

Segundo ele, substâncias de alto valor nutritivo também poderão ser produzidas pela cana. Sua própria equipe está empenhada em verificar a possibilidade de desenvolver uma cana com maior teor de lisina, cuja síntese é controlada por duas enzimas produzidas pelos genes. Uma delas, a aspartato-kinase, já se encontra na base de dados do projeto. O gene que leva à formação da outra, a dihidropicolinato-sintetase, ainda não foi encontrado, mas Arruda confia que logo aparecerá. O plano da equipe é produzir uma pequena alteração nessas duas enzimas de tal forma que elas se expressem no colmo da cana e acumulem o aminoácido em quantidades significativas, permitindo a produção, por exemplo, de rapaduras mais nutritivas.

Produtos desse tipo têm interesse comercial, como indicam duas empresas norte-americanas que devem lançar em breve um milho com maior teor de lisina, esperando causar um impacto sem precedentes na alimentação animal. “Não vamos mudar a cana colocando genes estranhos à planta, mas alterando a expressão do gene, fazendo com que seja mais ou menos ativo, para produzir o que nos interessa”, diz. “Se não fizermos isso agora, teremos que comprar essa tecnologia daqui a alguns anos.”

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