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INFORMÁTICA

A Internet 2 chega a São Paulo

Entra em operação a Advanced ANSP, nova e rápida rede acadêmica

A Internet 2, versão avançada de comunicação por computadores com muito mais recursos que a Internet atual, chega ao país menos de dois anos depois de sua criação nos Estados Unidos. O lançamento oficial no Estado de São Paulo, um marco para a comunidade científica nacional, aconteceu no último dia 16 de dezembro, com a interligação via rede de várias instituições paulistas, dando início à Advanced ANSP, uma nova rede acadêmica e científica, mais ágil, generosa e rica no quesito transmissão de dados.

O governador Mário Covas abriu o evento, com uma videoconferência transmitida diretamente de sua sala no Palácio dos Bandeirantes e recebida on-line em múltiplos pontos, dando, assim, uma pequena amostra do potencial da Internet 2.Estavam, naquele momento, agregados à nova rede, além dos convidados que se encontravam na sala do governador, pesquisadores e outros convidados distribuídos pelos auditórios da FAPESP, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto do Coração (Incor-HC) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – situados em diferentes pontos da cidade de São Paulo -, do Centro de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Prefeitura Municipal de Campinas.

A partir de qualquer um desses sete locais conectados à FAPESP, era possível acompanhar a solenidade e uma série de exemplos de uso da Internet 2, em forma de vídeos e conferências a longa distância. Tudo isso tornou-se possível por conta de alta velocidade de transmissão de dados da nova rede, que exibe potencial pelo menos cem vezes maior que o da Internet comum.Covas inaugurou o sistema dizendo que a Internet 2, “um serviço criado nos Estados Unidos, chega ao Brasil com enorme velocidade e ímpeto”. O governador ressaltou o potencial do novo meio para o aprimoramento da tecnologia e elogiou a iniciativa dos que trabalharam para estruturar a nova rede: “Devemos isso à comunidade científica, à FAPESP, à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e a todos os que estão envolvidos nessa tarefa.”

Na apresentação das redes de alta velocidade, José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP, destacou, a partir do auditório da instituição, o papel da Internet 2 como “instrumento poderoso de cooperação”. Perez lembrou que a Internet deve ser vista não só como ferramenta, mas também como objeto de pesquisa. “O potencial e o impacto social da Internet, em muitas dimensões de nossas vidas, são incalculáveis”, disse. Aproveitou para anunciar que a FAPESP deverá lançar proximamente um programa destinado a financiar projetos que se relacionem com a Internet em suas diversas facetas. “Seja no aspecto de criar aplicativos específicos, seja no entender das ciências humanas, por conta do impacto socioeconômico, e até mesmo nas questões que se referem às políticas públicas”, complementou, exemplificando.

Numa segunda parte do evento, foram transmitidos simultaneamente, e em monitores distintos, três exemplos de uso para a Internet 2. A Politécnica da USP exibiu aplicativos de teleducação, gerenciamento e segurança. O Incor e a Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, demonstraram a possibilidade de diagnóstico a distância, com acesso a exames complexos do paciente. Ao mesmo tempo, na Unicamp, ocorreu uma mesa-redonda que destacou o impacto social da nova rede, com especial destaque para a transferência de tecnologia agropecuária, através da Embrapa.

Recursos inovadores
Essas apresentações específicas trouxeram apenas uma minúscula parte do que deverá ser a Internet 2. “Neste primeiro momento, ela estará voltada principalmente para os meios acadêmico e de pesquisas, com aplicações sem dúvida inovadoras e que, hoje, não podem ser exploradas satisfatoriamente pela Internet 1”, explica Hartmut Richard Glaser, Coordenador da Advanced ANSP e professor da Escola Politécnica da USP.

Estima-se que seu impacto social positivo deverá ser mais bem notado daqui a alguns anos, quando a tecnologia estiver mais bem definida, desenvolvida e assimilada. O diretor do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (LARC) da Politécnica da USP, Wilson Vicente Ruggiero, também coordenador da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de São Paulo (RMAV-SP) e do Grupo de Educação voltado para a Internet 2, defende esse ponto de vista: “Muito provavelmente, a maioria das aplicações ainda não foi concebida ou sequer imaginada”.

A possibilidade de transporte de um grande volume de informações e com rapidez e grande quantidade entre os institutos deverá trazer, dentre outras facilidades, a socialização de tecnologias entre centros distantes e a disseminação de pesquisas e da educação através de informações em áudio e vídeo de alta resolução, abrindo um novo patamar qualitativo para a comunicação de dados. Bibliotecas digitais de alta fidelidade documental, recursos multimídia antes impensáveis, tais como projeções de telas em três dimensões e controle remoto de microscópios eletrônicos, estarão ao alcance das comunidades acadêmica, médica e científica, mesmo quando distantes dos principais centros tecnológicos. Tudo isso apresentado com qualidade, rapidez, sigilo no tráfego de dados e a um custo barato, várias vezes menor que qualquer outra forma de comunicação disponível e, sem dúvida, sem a mesma agilidade.

A Internet 2 opera nesses termos desde 1997 nos Estados Unidos e apenas em alguns outros países do Primeiro Mundo. O Brasil vem se alimentando dessa vanguarda desde aquele mesmo ano, quando a idéia começou a germinar por iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ciente da evolução constante por que passam as telecomunicações, a informática e, por conseqüência, a Internet. Através da publicação de edital especial do Ministério da Ciência e Tecnologia foram iniciadas, há dois anos, as pesquisas para o desenvolvimento de redes de alta velocidade nacionais, tendo como pontos de partida abrangências regionais.

Através de um investimento previsto de US$ 32,6 milhões, estão sendo estruturadas desde então 14 Redes Metropolitanas de Alta Velocidade, as RMAVs, que, além de São Paulo e Campinas, incluem as áreas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Várias dessas redes já estão em pleno funcionamento com relação à atuação regional. Quando essas redes de abrangência metropolitana iniciarem a interligação entre elas, como agora aconteceu entre a capital paulista e Campinas, estará sendo formada a Rede Nacional da Internet 2, a ser gerida pela futura RNP2 (Rede Nacional de Pesquisa 2). Um programa comum entre o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Ministério da Educação (MEC) prevê investimentos de R$ 215 milhões até 2004 para garantir essa segunda etapa de interligação de todas as redes metropolitanas.

Uma nova rede acadêmica paulista
O funcionamento da Internet 2 brasileira começou, na prática, a partir da inauguração da Advanced ANSP, com a interligação de duas das redes de alta velocidade já em fase operacional. A rede em funcionamento principal, porque a mais ampla e abrangente, é a Rede Metropolitana de Alta Velocidade de São Paulo (RMAV-SP), que interliga a Universidade de São Paulo (USP), a PUC de SP, o Hospital das Clínicas, no qual se inclui o Instituto do Coração, a Unifesp, à qual pertence a Escola Paulista de Medicina, e a FAPESP, mais as empresas privadas de telecomunicação Globocabo e Telefônica – que fornecem parte da infra-estrutura da rede, principalmente quanto à implantação das fibras ópticas que carregam os dados em vias largas.

A interligação da RMAV-SP com a Rede Metropolitana de Alta Velocidade de Campinas (ReMet) permite agora a comunicação com os institutos ligados à Unicamp, mais a Embrapa, a Prefeitura Municipal de Campinas, apoiadas no consórcio pela operadora de tevê por assinatura NET-Campinas, que oferece a estrutura de cabeamento óptico já instalada na região. Essa é apenas uma primeira etapa e que começa a moldar uma nova Academic Network at São Paulo (rede acadêmica paulista), a Advanced ANSP, rede de comunicação de alta velocidade que, em princípio, interligará instituições de ensino e pesquisa de 11 municípios de São Paulo. A atual Rede ANSP, também mantida e gerenciada pela FAPESP desde o longínquo ano de 1989, une por meio dos atuais recursos da Internet todas as instituições do Sistema de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

Como próximo passo, a Advanced ANSP deverá estender essa interligação São Paulo-Campinas para a inclusão de Piracicaba (USP), Rio Claro (Universidade Estadual Paulista – UNESP), São Carlos (Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR), Araraquara (UNESP), Ribeirão Preto (USP), São José do Rio Preto (UNESP), Bauru (UNESP), São José dos Campos (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE) e Cachoeira Paulista (INPE). Essas 11 cidades poderão trocar informações a velocidades que variam de 34 a 155 Megabits por segundo, dependendo do equipamento instalado e ou disponível. “Um salto fantástico, levando-se em conta que hoje têm-se, com a Internet 1, velocidades disponíveis de, no máximo, 2 Megabits por segundo”, anuncia Glaser, o coordenador da Advanced ANSP.

Essas próximas conexões já estão sendo viabilizadas por meio de um acordo de cooperação conjunta negociado pela FAPESP com a Telefônica e Nortel Networks, empresa de informática especializada em produtos para redes digitais. “Os links entre essas cidades paulistas, por sua vez, ainda receberão equipamentos com capacidade de transmissão de 2,5 Gigabits por segundo, de forma que a Advanced ANSP possa ser ampliada conforme as necessidades de demanda”, adianta Glaser. Outro pilar da implantação da RMAV-SP é o LARC, laboratório da Escola Politécnica da USP. Especializado nas áreas de arquitetura e redes de computadores, o LARC ficou responsável pela escolha da metodologia de trabalho das instituições participantes, além do desenvolvimento dos aplicativos nas áreas de teleducação, gerência e segurança da rede.

Um salto maior poderá ocorrer a partir do ano 2000, com a implantação de cabos ópticos submarinos que têm potencial para conectar as comunidades acadêmicas do Brasil e dos Estados Unidos. Este país, por sua vez, deverá fornecer o caminho de comunicação por alta velocidade para o restante do mundo. Estima-se que, para o internauta comum, o uso comercial da Internet 2 passará a ocorrer no Brasil a partir do ano de 2002. Da mesma forma que a atual Internet, a Internet 2 poderá, num futuro breve, ser uma ferramenta de serviços e lazer para milhões de usuários.

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