A importância da pesquisa científica e tecnológica para o desenvolvimento nacional, e em particular da agricultura, pode ser demonstrada numa série de fatos. Mas nenhum deles mostra-se tão emblemático como o ocorrido na citricultura paulista. Nos anos 50, a doença denominada “Tristeza de Capão Bonito” dizimou os pomares estaduais, dando origem a intensas pesquisas biológicas que redundaram na troca de porta-enxerto. Foi o que sustentou a retomada da expansão dos plantios.
Depois vieram o cancro cítrico, o declínio dos citros, agora a Clorose Variegada dos Citros. Em cada tempo, para cada doença e a cada novo desafio, a pesquisa agropecuária paulista se debruçou sobre o problema. E resolveu. Tanto isso é verdade que os Estados Unidos, campeões de investimento em Ciência e Tecnologia, se curvam à maior competitividade do complexo citrícola paulista e, para manterem a sua citricultura, taxam o suco cítrico brasileiro, como medida de auto-proteção.
Como isso foi possível? Em primeiro lugar, pela dedicação extrema de nossos cientistas que, superando as limitações de recursos, atenderam as demandas do setor produtivo e geraram técnicas que superaram os obstáculos. E que obstáculos! A cada tempo, quando o clima era desolador quanto ao futuro da citricultura, nossos pesquisadores fizeram ressurgir, dos laboratórios, a esperança. Mas não apenas isso a pesquisa citrícola nos ensina. Ela também é modelo, desde há muito tempo, daquilo que hoje se considera moderno, qual seja, a parceria entre as instituições públicas de pesquisa e o setor privado.
Esse corresponde ao segundo aspecto relevante e que encontra um exemplo concreto no Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, em Cordeirópolis, ligado ao Instituto Agronômico de Campinas, da Secretaria de Agricultura de São Paulo. Trata-se de obra de Estado, mas não apenas de Governo. Para a construção dessa instituição modelo contribuíram os investimentos públicos em pesquisa. E aplicação de recursos em pesquisa significa investimento e não despesa. Estudos mostram que, para cada real aplicado em pesquisa citrícola, o retorno do investimento, em uma década, alcança 37 reais ao ano.
Mas não foi apenas dinheiro público que sustentou esse processo. O Governo fez a sua parte e as empresas citrícolas, entendendo a geração de conhecimentos científicos e de tecnologia como estratégicos, aplicaram recursos na construção desse modelar Centro de Pesquisa. Outro exemplo que merece ser citado é o da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro que, através da Fundação de Pesquisas Agro-industriais, une os esforços do Estado, do Município, da Universidade (UNESP) e das Cooperativas.
O lançamento do Projeto Genoma-Fapesp, pela FAPESP, dá um novo impulso a uma área de pesquisa até hoje pouco desenvolvido no Brasil, envolvendo um número inédito de pesquisadores das universidades e dos institutos. Assim, a citricultura paulista, moderna e competitiva, capaz de colocar na defensiva na disputa de mercado os norte-americanos, não pode ser dissociada da valorosa contribuição de nossos cientistas. A geração de divisas com exportações em mais de US$ 1 bilhão anuais, contribuindo para que o saldo da balança comercial agrícola supere os US$ 10 bilhões, não seria possível sem tecnologia nacional.
No comércio exterior, a agricultura amortece os impactos da abertura da economia sobre a balança comercial. Nesse sentido, a agricultura surge como solução na geração dos dólares para financiar o desenvolvimento. E essa capacidade competitiva surge da tecnologia criada pelos nossos cientistas. Nesse contexto, a Ciência produz soluções sustentando o progresso nacional. A pesquisa citrícola insere-se nesse processo como um exemplo magnífico de sucesso.
Francisco Graziano é Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
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