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fcw 2011

Arnaldo Cohen: A vida sem partitura

O pianista Arnaldo Cohen comemora 40 anos de carreira e passa 2012 tocando apenas onde quer e o que gosta

Universidade de Indiana

Cohen trabalha com ensino e pesquisa na Universidade de IndianaUniversidade de Indiana

Os 40 anos de carreira do pianista carioca Arnaldo Cohen, que ocorrem este ano, contemplam o seu maior desejo de consumo: tempo para fazer apenas o que gosta. À profissão de pianista iniciada em 1972 ele agregou definitivamente a de professor desde 2004 ao assumir a cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. “Este ano me permiti um luxo. Continuarei tocando, mas somente onde gosto e o que amo”, diz ele. A 10ª edição do Prêmio FCW de Ciência, Arte e Cultura, cuja premiação ocorreu na Sala São Paulo, na capital paulista, foi uma dessas ocasiões.

O músico tem uma carreira reconhecida como brilhante pela crítica especializada internacional há décadas. Cohen, de 64 anos, realizou mais de 3 mil concertos como solista de importantes orquestras como a Royal Philharmonic Orchestra, da Inglaterra, a Filarmônica de Los Angeles, dos Estados Unidos, e a da Accademia di Santa Cecilia, da Itália. Colaborou com regentes como o norte-americano Yehudi Menuhin e os alemães Kurt Masur e Klaus Tennstedt, entre muitos outros. Também toca música de câmara: por cinco anos integrou o Trio Amadeus, formado pelo violinista Norbert Brainin e o violoncelista Martin Lovett, membros do Quarteto Amadeus, e participa regularmente de outras formações.

A vida acadêmica de Cohen é menos conhecida. Por três anos ele frequentou a Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) até mudar e graduar-se em piano e violino pela Escola de Música da mesma universidade. Estudou por quatro anos com o pianista Jacques Klein e trabalhou como violinista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio para bancar os estudos. Complementou sua formação em Viena, na Áustria, e teve aulas com Bruno Seidlhofer e Dieter Weber.

O pianista nunca esqueceu a dedicação de Jacques Klein e outros mestres que teve. Decidiu aproximar-se da academia pelo desejo de retribuir e ajudar outros jovens. Não cursou pós-graduação, mas ganhou o reconhecimento de “notório saber” da UFRJ quando prestou concurso para professor da Escola de Música, onde ficou de 1977 a 1981. “Na Inglaterra tive a honra de receber o título de fellow Honoris Causa do Royal Northern College of Music, de Manchester”, conta. Antes havia também lecionado na Royal Academy of Music, em Londres.

Hoje suas atividades na Universidade de Indiana vão além do ensino. “Participo de um trabalho de pesquisa, ligado ao setor de tecnologia, em que desenvolvemos um software que tem como objetivo fazer com que um CD, gravado por uma orquestra, possa ser sincronizado com o que um pianista executa”, explica. “Em suma, uma orquestra e maestro virtuais. Perfeitos.”

A ligação com a Fundação Conrado Wessel vem desde os primeiros anos – a quarta premiação teve Cohen como solista. A fundação concedeu quatro bolsas de graduação em música para o violinista gaúcho Moisés Bonella, de 22 anos, fazer o curso de música da Universidade de Indiana de 2007 a 2011 por influência e tutela de Cohen. Para o pianista, já há no Brasil profissionais competentes que, após aperfeiçoamento no exterior, trouxeram mais conhecimento para ser aplicado aqui: “Penso ser fundamental a vivência em importantes centros culturais”.

Neste ano de comemorações, as viagens continuam nos planos do pianista. “Mas o sonho é acordar e improvisar o que farei. Tocar a vida sem partitura”, diz. Ainda assim, em 2012 ele deverá se apresentar nas principais capitais brasileiras. “Celebrarei 40 anos de muita luta e de uma carreira internacional, iniciada no dia 1º de setembro de 1976, quando venci o primeiro prêmio no Concurso Internacional Busoni, na Itália”, lembra. Para Cohen, olhar para o passado com um sorriso é o grande prêmio.

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