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Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESPBrondizio em São Paulo, em 2017Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP
O Prêmio Tyler, conhecido como o Nobel do meio ambiente, pela primeira vez foi concedido a dois sul-americanos: a ecóloga argentina Sandra Díaz, da Universidade Nacional de Córdoba, e o antropólogo brasileiro Eduardo Brondizio, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e membro do corpo docente do programa Sociedade e Ambiente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles trabalharam juntos como copresidentes, com o ecólogo alemão Josef Settele, do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, no levantamento global da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade de Serviços Ecossistêmicos (IPBES), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). A indicação dos dois para a premiação, no entanto, foi independente e contemplou contribuições individuais complementares.
“Eduardo Brondizio é uma autoridade global em interações entre seres humanos e ambiente, e mudança socioambiental na região amazônica”, ressalta o site do prêmio Tyler. “Seu trabalho na Amazônia e a nível global deu forma a políticas e práticas ambientais e foi essencial para conectar ciências sociais e ambientais em iniciativas ambientais globais.”
O Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, do IPBES, ficou pronto como um enorme volume em 2021, mas o levantamento já estava disponível desde 2019, em momento calculado para servir de base para as negociações da Convenção sobre Diversidade Biológica em Montreal, Canadá, que resultou nas metas para 2030, que buscam reverter a perda da biodiversidade. “O levantamento foi o maior esforço já feito para entender as transformações do planeta nos últimos 50 anos e suas consequências para a sociedade”, avaliou Brondizio em conversa com a reportagem de Pesquisa FAPESP. “Foi também o primeiro esforço a analisar de forma sistemática as contribuições e o protagonismo do conhecimento e das práticas de populações indígenas e comunidades locais para a natureza a nível global.” No mundo há quase meio bilhão de indígenas, divididos em cerca de 5 mil povos e falantes de mais de 4 mil idiomas.
Brondizio comemora o fato de que as comunidades tradicionais sejam reconhecidas e ganhem espaço em discussões que podem informar políticas públicas. “Não são contribuições isoladas, essas ações locais têm importância regional e global”, define. Segundo o antropólogo, mais de um quarto da superfície terrestre é de povos indígenas por direito, que garantem a saúde dos ecossistemas e das bacias hidrográficas, a manutenção da biodiversidade e a produção de alimentos.
Além da coordenação global, o foco principal do trabalho de Brondizio é a Amazônia, buscando modelos para garantir a valorização dos sistemas de produção local e a proteção da floresta e dos rios. “A região é uma incubadora de sociobioeconomias”, afirma.
Ele também ressalta os problemas da realidade urbana, atingida por impactos ambientais e violência – crime organizado e uma profusão de ações ilegais, como garimpo, grilagem de terras, extração de recursos florestais e pesqueiros, prostituição, tráfico de drogas e contrabando. “Hoje as áreas indígenas rurais e urbanas se intersectam na região, influenciando umas às outras, precisamos repensar a governança ambiental da região como um todo.”
“Tento trazer visibilidade às soluções vindas de iniciativas locais”, diz ele sobre seu trabalho. A caminho da COP30, que acontecerá em novembro em Belém, pôr essas questões em evidência na escala mundial torna-se ainda mais crucial e oportuno.
De acordo com o site do Tyler, os dois pesquisadores foram premiados por “seu trabalho extraordinário ligando biodiversidade à humanidade” e seu “compromisso com a compreensão da perda de biodiversidade e seu impacto para sociedades humanas”. A ecóloga argentina é reconhecida por seu trabalho interdisciplinar com aspectos funcionais da fisiologia das plantas, como elas reagem ao ambiente e influenciam os ecossistemas e o bem-estar humano. “Em vez de contar o número de espécies em um ecossistema, Díaz olha para o que torna as plantas diferentes umas das outras”, afirma o texto no site.
A cerimônia acontecerá em abril e Brondizio e Díaz dividirão o valor de US$ 250 mil, quase R$ 1,5 milhão.
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